Portugal percebeu-o bem. E não foi apenas para apadrinhar Abril que, um dia, don Ata ‘saudou’ Zeca Afonso evocando mais o sopro do vento do que a vontade dos homens. É que não será a distância a separar quem, em países cortados ao meio, soube ao verdugo responder com uma poética de flores de estio. E se, por vezes, a política mais não faz do que mistificar valores inscritos na terra, o que dizer de quem – na sua Argentina – soube reclamar um lugar no coração geográfico de um país de forma a melhor entender o que lhe ia na alma? E, para mais, criando um estilo que – como por cá o de Paredes – só não fez escola porque se revelou inimitável. Daí a impossível tarefa do guitarrista Carlos Martínez e o paradoxo em que assenta o seu absoluto triunfo. Pois constata que, mais do que a compreensão do tempo cronológico, em Yupanqui é necessário reconhecer aquilo que a filosofia apelida por ‘tempo oportuno’. Isso, e a aceitação de uma cumplicidade geográfica que – por entre sarças e canaviais, nas serranias e nos planaltos – se revela sempre que numa decantação folclórica o sangue se mistura com as cordas e a madeira. Do andino sonho de tocar a lua à descida da cruz de quem canta errando pela pampa, esta é a música enquanto metáfora de silêncios.
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