Não terá sido a primeira nem a última vez que uma tenda de circo se armou em torno de um poema. Mas foi das poucas em que, a pretexto de olhar nos olhos o Criador, o Homem não se ajoelhou. É que – há na vida que aceitá-lo – nem sempre o degredo se pinta com a cor do pecado. Por isso, para que subam ao palco, que se expulsem do paraíso os actores – é o melhor destino dos que desejam em segredo. “O Grande Circo Místico”, pela mão de Naum Alves de Souza e do coreógrafo português Carlos Trincheiras, ergueu-se em 1982. A sua banda-sonora garantiu-lhe a eternidade. Esta terceira versão em CD difere da de 1993 (Velas) mas é idêntica à de 2002 (Dubas): cá estão as canções feitas de luz e sombra, as vagas valsas, maltrapilhas marchas, ornatos oratórios. E a bela leveza das bailarinas, o pranto dos palhaços, o indecoro das coristas. Com Milton, Gal, Gil ou Simone nas vozes dos anjos, e uma barca de insuperáveis instrumentistas (António Adolfo, Nelson Ângelo, Dorothy Ashby) empurrada pelo sopro de uma big band e embalada por uma ondulante orquestra de cordas. Na plateia sorriem Weill, Richard Strauss, Bernstein, Sondheim, Rota, Jobim e Miles. No momento em que explodiu o BRock, não houve melhor túmulo para a MPB. Obrigatório.
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