Em Maio de 1963, no Peru, 29 balas encontraram o corpo do poeta e revolucionário Javier Heraud. Chabuca Granda, primeira-dama da trova peruana, emudeceu e, consigo, calou-se a Primavera. Anuviada por uma mágoa que parecia indizível, nada gravou ou – supõe-se – compôs no lutuoso par de anos que se seguiu. Até que um dia voltou com dez novas canções assombradas pela morte, suspensas em misteriosas melodias e com cada nota bem colada à letra. Vinham manchadas de sangue, secretas como um tiro ouvido numa floresta anoitecida e, ouve-se em “Un Cuento Silencioso”, de um tempo em que se dizia que o mundo iria morrer de frio. No final da década, até ao cantar clássicos (de “La Flor de la Canela” a “Fina Estampa”) se adivinhava pesar. Susana Baca, sua herdeira e protegida, escolheu agora três canções desse ciclo e revoltou-lhes entranhas. Daí partiu para uma consonância temática que se alastra ao folclore e inclui Lorca, outro poeta assassinado. Pela mão de Sergio Valdeos, guitarrista e director musical, a luz é aqui mais luz e a sombra mais sombra. Porque, lê-se em “El Fusil del Poeta”, evoca o dia em que “era el sol más sol al río / más río el río, y más la guerra era / y más la muerte desde la ribera”.
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