Há quem lhe chame ainda “o país das cantoras”. E um tempo houve em que memória e desejo se confundiam como se toda a música chegada do Brasil apontasse para um regresso à natureza. Isso, e encontrar na “verdade da voz” (feminina) remédio para males de que não há cura. O postulado chamou-se Elis, Bethânia, Gal ou, até, Simone. Mas logo apareceu quem na crença visse a suspensão da realidade. Por isso, e porque uma agenda mais dependente do marketing do que do talento impôs um tumulto que nem sempre interessou ouvir, só no encontro com Adriana Calcanhotto, Marisa Monte ou Zélia Duncan viu a luz aquele que, neste contexto, faz da cultura popular uma profissão de fé. Mas entretanto voaram 20 anos. E um novo dia exige uma nova canção. Disso saberá Tom Zé, que em “Estudando a Bossa” evoca o passado para falar do futuro em duetos com Mariana Aydar, Tita Lima, Andréia Dias, Márcia Castro, Marina de la Riva ou Anelis Assumpção – essas sim, “novas vozes”. Aydar, precisamente, apresenta em Portugal (nos dias que correm, quase uma excepção) o sucessor de “Kavita 1” e distingue-se pela tomada de responsabilidade que a crise exige. Isto quer dizer que à toada rare groove da estreia (por cortesia do produtor, BiD) se sobrepôs a necessidade de aclarar águas e anunciar a razão única de se estar aqui e agora. Kassin e Duani combinam estilo e substância nos arranjos e fazem-no com uma noção de tempo histórico que cruza ecos de afoxê, forró e samba com os mesmos vestígios do rock que enreda Caetano Veloso ou Marcelo Camelo. E quando se define um espaço próprio – convidados como Zeca Pagodinho e Mayra Andrade só o confirmam – fica na mente gravada a ideia de que os ventos de mudança derivam hoje de discretos exercícios pessoais. Lição que Verônica Ferriani e Ana Costa precisarão de aprender, mais valia face ao que em 2008 fizeram Daniela Procópio, Beatriz Azevedo, Aline de Lima ou Cris Aflalo, e uma importante aproximação a Roberta Sá e Fabiana Cozza. E se a próxima curva na estrada confirmar Mallu Magalhães, Dani Gurgel, Fernanda Dias ou Tatiana Parra, tropeçará de vez na esperança o que parecia destinado a errar no escuro.
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