Alaíde Costa esteve na bossa desde o ano zero. E entre 59 e 65 patenteou um modelo interpretativo superado apenas por Sylvia Telles. Mas estava esquecida quando em 72 Milton Nascimento a convocou para “Clube da Esquina”. Reanimada, gravou uma obra-prima (com Oscar Castro-Neves) e em 76 lançou “Coração”, numa actualização de repertório e estilo capaz de acolher as expansivas tendências de João Donato (autor dos arranjos), Nelson Ângelo ou Toninho Horta. Confiante e moderna, estreou aqui uma mão cheia de originais que hoje se comprovam uma incumprida promessa de futuro. Nos últimos 30 anos editou apenas seis discos – e é este que contextualiza os outros.
Rosinha de Valença era guitarrista, apresentada como versão feminina de Baden Powell. Em 65 partiu para os EUA com Sérgio Mendes e gravou com Bud Shank e Donato. Mas com “Cheiro de Mato”, também em 76, mudou tudo e decidiu dar voz a um imaginário rural de meninice, virando-se para memórias de terra gretada pela seca, de noites de lua cheia, do madrugador chilrear no arvoredo, dos badalos da boiada, dos cascos e pedras, cantando num tom de uma impoluta candura capaz de, no dueto com Miúcha, passar das palavras às lágrimas. Acompanhada por Sivuca, Célia Vaz ou Francis Hime, reconduziu a MPB a uma pureza virginal e um ano depois até Elis dizia ser caipira. Ainda tocou com Bethânia, mas, sem mais oportunidades, foi partindo até abandonar o país. Voltou em 92 e, na sequência de um AVC que a deixou 12 anos em coma, aí faleceu em 2004. Nesse ingrato ano de 76, como nos LPs de Edu Lobo, Milton, Tom Zé, Jorge Ben ou Chico Buarque, a maior ilusão foi a de quem dentro de si procurou a via da esperança.
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