Na alvorada de um novo mundo há geralmente outro que se arruína. A fechar 1959, Maysa, cansada de digressões, de dois álbuns por ano, amantes e tentativas de suicídio, entra em depressão com a morte de Dolores Duran e, com 90 quilos, é admitida nas urgências. Desintoxica-se, plastifica-se, regressa a estúdio e diz: “Voltei, com meus olhos, com meu verso, e a todos eu peço que me aceitem como sou”. A poeira assentou. Como João Gilberto, abre o LP com uma aveludada ‘Meditação’, deixa a dor de corno para Nora Ney e, batendo Sylvia Telles e Alaíde Costa, grava a mais doce versão de ‘Dindi’ de 1960. Com lúcidas orquestrações de Enrico Simonetti, propôs – a par da Elizete Cardoso de “A Meiga Elizete” – o mais belo disco feminino do ano. E num instante trocou as voltas ao destino. Em 1961 gravaria o infido “Barquinho” (com consequências devastadoras para o núcleo central da bossa nova) e até à morte, aos 41 anos – entre escândalos e temporadas em Lisboa –, cantou “Se o meu mundo caiu eu que aprenda a levantar”. Em 2009, com a exibição na Globo de “Maysa – Quando Fala o Coração” (mini-série de Jayme Monjardim, seu filho) e a reedição dos seus discos, provou-se que nunca aprendeu.
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