22 de fevereiro de 2014

Bach: Goldberg Variations (Nonesuch, 2013) & Beethoven: Diabelli-Variationen (ECM, 2013)



 Jeremy Denk
András Schiff
Aqui, mais assustador que o vulto da simultaneidade só o da abreviação. Culpe-se Glenn Gould, que, embora adiantado, logo à primeira preconizou umas Goldberg para a era do Twitter. Porque nada justifica que se disponibilizem estas variações avulso em lojas digitais. De que serve, na formulação de Landowska, possuir a “pérola negra” de Bach – variação nº25 – se não para entendê-la, conforme caracterização de Denk, como “um oásis de tristeza num vasto deserto de felicidade”? E como absorver o impacto da vigésima das Diabelli, e a inquietação que deriva dessa insólita progressão harmónica, senão pelo confronto com o formalismo que a precede? Não espantará que um dia venha alguém pintar os “Concertos de Brandeburgo” à luz da biografia de Karlheinz Brandenburg, teórico do MP3. É que nesta música acerca de música a conjuntura é tudo. E Denk, nessa medida, é restaurativo. Aliás, em tempos recentes só Angela Hewitt possuiu aproximada visão das Goldberg: reflexiva e labiríntica, modular e cumulativa, solilóquio sobre o que há de conciliável no mundo. Também em Schiff se revela o contexto decisivo: prova-lo o cinismo com que, justapondo duas interpretações das Diabelli, deixa para a segunda, num pianoforte de 1820, o verdadeiro exercício de fricção e, de certa forma, gravitação que a obra exige. Duas lições.

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