8 de fevereiro de 2014

Mar Seck “Vagabonde – From Super Cap-Vert To Number One: Unreleased Recordings 1969-80” (Teranga Beat, 2013)



Há coisa de um ano, preso a uma cama do Hôpital Principal de Dakar, Mar Seck falava para o gravador do grego Adamantios Kafetzis – o agente por detrás da Teranga Beat – e, naturalmente, a par de tudo aquilo que viveu, e de um apropriadíssimo prenome, consigo estava o hálito das oportunidades perdidas: “Pape Seck, que foi como um irmão mais velho”, dizia, “quis levar-me para os Africando, mas adoeci e no meu lugar seguiu o Medoune [Diallo, vocalista da Orchestra Baobab].” De facto, dir-se-ia desenhado à medida do seu cândido tenor esse projeto que desde 1993 arrosta a aura atlântica. Ouça-se, aliás, “Viva Africando”, editado em setembro pela Sterns, para se verificar a firmeza dessa, passe a contradição, vaporosa estética crioula de que Mar Seck comungou. É o que perfila este “Vagabonde”, agora reunindo material do cantor e compositor, quase todo inédito, cuja transitoriedade acabou por espelhar o ideário da modernidade senegalesa. Não deixa de ser terrivelmente poético que pela maior parte dos temas da compilação, novamente masterizados, sopre um inquietante silvo digital, o som próprio da negligência fonográfica: resgatados a sessões radiofónicas de 1969 com os Super Cap-Vert, trata-se de sete testemunhos praticamente arcaicos, face ao iminente programa cultural da négritude, arrastados, então, pela perfumada corrente que, via rumba congolesa, chegava ainda das Antilhas, e que aqui se cruzava com dolentes eflúvios cabo-verdianos. Já de acordo com o plano oficial, um trio de canções de 1973 com a Star Band de Dakar e um par extraído a uma atuação de 1980 com a Number One de Dakar não anuviam o que tudo deve à quimera. Essencial.

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