Com
‘Alekouma’, um tradicional griô gambiano, cai o pano deste notável “Tribute to
Ndiouga Dieng” (já agora, falecido em dezembro do ano passado, Dieng foi um
antigo vocalista da Orchestra Baobab) e Florent Mazzoleni, responsável pelas
notas de apresentação do disco (e autor de uma série de biografias de música
popular africana com mais buracos do que a EN17 perto de Seia), mal se apercebe
da ironia com que descreve as intenções de Balla Sidibé para o tema (Sidibé é hoje
o principal cantor da banda): “Primeiro, pensou dedicá-la ao presidente da
Gâmbia, Yaya Jammeh [sic]; depois,
considerou destiná-la ao presidente senegalês, Macky Fall [sic], até que, como isto da política é complicado, optou por não a oferecer
a ninguém.” Certo… Não fossem as gralhas, claro, e caso não se pudesse retirar
de ‘Alekouma’ a seguinte moral: bom e sério é o homem que se mantém fiel aos
seus princípios e firme nas suas intenções. Por outro lado, é verdade que escreve
acerca de uma gente de tal maneira pragmática que, em 2002, sem especial
jactância, atribuiu a si mesma o epíteto “Specialist in All Styles”. Aliás, na
sua fase de arreigado nacionalismo, quando entraram em vigor os valores
culturais sintetizados no conceito négritude,
de Léopold Senghor, intitulava-se Orchestre du Bawobab. Era o tempo em que, na
sala que lhe tinha verdadeiramente dado o nome, o clube Baobab, em Dakar, os
seus membros atendiam a pedidos de homens de negócios, estadistas ou diplomatas
que, dados ao sentimento, tanto queriam ouvir clássicos de charangas cubanas
dos anos 50 quanto folclore uolofe, fula e mandinga ou melodias de Casamansa. Agora,
apesar de há uma década nada se saber de si, e depois de umas quantas mudanças
no elenco, é essa peculiar competência que se revalida num prodigioso registo
que, no fundo, nada mais faz do que aquilo que sempre fez: seguir atrás do
muito que de si saiu… Até se reencontrar.
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