Do Havai a Calcutá. Dir-se-ia que estava virado do
avesso, o título. Afinal, este “Tribute to Tau Moe” foi gravado em Honolulu, o
El Dorado da guitarra slide de colo, com
luminárias locais como Jeff Peterson, Benny Chong, Bobby Ingano ou Alan Akaka.
Mas percebe-se a intenção, claro. E, quiçá, o receio de o ver confundido com
aquele “Calcutta to California” de meados dos anos 90, não possuía ainda Debashish
a robustez autoral que hoje se lhe reconhece. Além de que, como é óbvio, o que
interessa agora é honrar-se um passado comum, coisa mais difícil do que mostrar
lealdade a um presente meramente circunstancial. O pretexto da dedicatória,
então, será evocar a odisseia da trupe itinerante de Tau Moe (1908-2004). Mais
concretamente, durante a Segunda Guerra Mundial e a meia dúzia de anos imediatamente
a seguir, o período em que - impossibilitada de regressar ao Havai em virtude do
bombardeamento de Pearl Harbor, e após estágios perfeitamente antológicos no
sudeste asiático, pelo médio oriente e na Alemanha nazi - a família assentou arraiais
na Índia, onde Tau funcionava como uma espécie de diretor musical para bandas
de hotéis, restaurantes e casinos do subcontinente, não obstante as ameaças da
força aérea japonesa. Como explica John W. Troutman, no seminal “Kika Kila: How
the Hawaiian Steel Guitar Changed the Sound of Modern Music”, das dezenas de
países pelos quais passou, “Foi na Índia que Tau Moe se provou uma influência
mais duradoura. Aliás, graças à imensa popularidade das suas gravações, às
aulas de música havaiana em que ensinava muitas crianças ou às emissões de
rádio em que participava, deu claramente origem a uma revolução no vernáculo do
país.” Bastará recordar a adoção da guitarra havaiana por Rajat Nandi, Brij
Bhushan Kabra, Charanjit Singh ou Van Shipley. Aqui, mais relutante a aceitar o
exotismo, carateristicamente meditativo mas nem por isso menos interessado em
adornar cada melodia com grinaldas de flores, vem Debashish lembrar esse
vínculo inquebrável.
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