Em ‘Sastanàqqàm’ faz-se
uma jura sagrada: “Ténéré, enquanto
for vivo, voltarei para ti.” Quem o diz é Ibrahim
ag Alhabib, força motriz dos Tinariwen. E em outubro passado andou lá perto,
quando a banda atuou no Festival de Taragalte, no sul de Marrocos. O jornalista
britânico Andy Morgan fez-lhe uma visita e deram dois dedos de conversa: “Não
faço ideia nenhuma do que se passa por lá”, confessava o cantor. De facto,
desde a última sublevação tuaregue no norte do Mali, em 2012, que as coisas se
complicaram para si e para os seus. Aliás, ele foi mais um dos que sofreram na
pele o efeito negativo daquela alegada coligação entre militantes tuaregues e
elementos do Ansar Dine e da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico que, na altura, mais
não fez do que cobrir a região com o véu da ortodoxia islâmica. “É mais
complicado para os nómadas”, continuava, “que só querem ser deixados em paz com
os seus rebanhos. Mas até os animais estão assustados!” Como dizia Riobaldo, em
“Grande Sertão: Veredas”, “Cavalo
que ama o dono, até respira do mesmo jeito.” O jagunço estava no nordeste
brasileiro mas podia estar na estepe russa ou no deserto do Sáara. A ilusão é
semelhante: a de um espaço sem princípio nem fim que parece ilimitado mas que
aprisiona, que transforma os seus habitantes em heróis e vilões e cujo
horizonte infinito obriga a contemplar o céu. Só que, como, agora, em
‘Tanakra’, canta Ousmane ag Mossa, dos Tamikrest: “A Estrela Polar
desapareceu.” E “Os pássaros já não voltam para o ninho”, responde-lhe Alhabib,
em ‘Ténéré Tàqqàl’. Pois “Elwan” e “Kidal” falam a língua do exílio e da
solidão.
Sem comentários:
Enviar um comentário