3 de junho de 2017

Tinariwen “Elwan” (Wedge, 2017) & Tamikrest “Kidal” (Glitterbeat, 2017)



Em ‘Sastanàqqàm’ faz-se uma jura sagrada: “Ténéré, enquanto for vivo, voltarei para ti.” Quem o diz é Ibrahim ag Alhabib, força motriz dos Tinariwen. E em outubro passado andou lá perto, quando a banda atuou no Festival de Taragalte, no sul de Marrocos. O jornalista britânico Andy Morgan fez-lhe uma visita e deram dois dedos de conversa: “Não faço ideia nenhuma do que se passa por lá”, confessava o cantor. De facto, desde a última sublevação tuaregue no norte do Mali, em 2012, que as coisas se complicaram para si e para os seus. Aliás, ele foi mais um dos que sofreram na pele o efeito negativo daquela alegada coligação entre militantes tuaregues e elementos do Ansar Dine e da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico que, na altura, mais não fez do que cobrir a região com o véu da ortodoxia islâmica. “É mais complicado para os nómadas”, continuava, “que só querem ser deixados em paz com os seus rebanhos. Mas até os animais estão assustados!” Como dizia Riobaldo, em “Grande Sertão: Veredas”, “Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito.” O jagunço estava no nordeste brasileiro mas podia estar na estepe russa ou no deserto do Sáara. A ilusão é semelhante: a de um espaço sem princípio nem fim que parece ilimitado mas que aprisiona, que transforma os seus habitantes em heróis e vilões e cujo horizonte infinito obriga a contemplar o céu. Só que, como, agora, em ‘Tanakra’, canta Ousmane ag Mossa, dos Tamikrest: “A Estrela Polar desapareceu.” E “Os pássaros já não voltam para o ninho”, responde-lhe Alhabib, em ‘Ténéré Tàqqàl’. Pois “Elwan” e “Kidal” falam a língua do exílio e da solidão.

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