Felix Mendelssohn nasceu a 3 de
fevereiro de 1809, faz hoje 209 anos, portanto. Era ainda meio palmo de gente
e, com a sua irmã, Fanny, animava perante uma plateia de ilustres os salões musicais
organizados pelos seus pais. Foi um menino-prodígio, ao jeito de Mozart (quiçá
maior – Goethe ouviu-os aos dois e achou que sim), que em certo ponto emulou. O
mesmo se poderá dizer de Bach, de Handel ou de Haydn. Aqui, é servido como
especialidade da casa – Mendelssohn, “tão importante na nossa vida que
decidimos mergulhar na dele”, conta o Arod (Jordan Victoria, Alexandre Vu,
Corentin Apparailly e Samy Rachid). Nada peregrina, a ideia será, então,
aplicar nestes quartetos (bem como no póstumo op. 81, “Quatro Peças”) a nuance da biografia – como projeto
artístico é o equivalente à prática do arrastão na pesca. “Como um eco vindo
das profundezas que nos faz exatamente recordar aquilo que somos”, continuam,
em notas de apresentação, ignorando que, neste contexto, de facto, nem tudo o
que vem à rede é peixe.
Mas não se poderá levar a mal esta ambição de
transformar o ingrato destino de Mendelssohn, no caso nomeando-o herdeiro de
Beethoven – mas esse não era Brahms? Não importa: do recurso à tonalidade do op.
132 (cuja introdução ao andamento final também espelha) à melodia que evoca
“Les Adieux” e do motivo interrogativo a lembrar o do op. 135 à fuga semelhante
à do op. 95, para o Arod, o que o op. 13 (o “Quarteto em Lá menor”) de um
recebeu por transmissão da obra do outro tem de ser levado à letra.
Nomeadamente por colocar em evidência o quanto havia já Mendelssohn assimilado
da poética do passado – e como a conseguia empregar sem prejuízo de uma
exuberância algo impulsiva e impetuosa, isto, claro está, aos dezoito anos, um
punhado de meses após a morte da sua fonte de inspiração, em 1827. Uma década
depois, quando compôs o op. 44/2 (o “Quarteto em Mi menor”), tê-las-á sublimado
todas. E o Arod atinge perfeitamente esse equilíbrio entre, digamos, integridade
formal e expressividade informal. Mas nota-se que é pelo op. 13 que tem um
fraquinho (e ainda no domingo passado o tocou, em Lisboa), fazendo o
impossível: superar a interpretação do quarteto Ebène, editada em 2013.
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