Alarga-se exponencialmente no tempo o Guimarães Jazz, com treze concertos em dez dias consecutivos, e, já agora, também, como
propõem os seus organizadores, no espaço, com músicos vindos dos “Estados
Unidos, Brasil, Israel, Alemanha, Áustria…” Poder-se-ia ter acrescentado o
Benim à lista, por via de Lionel Loueke, mas o guitarrista, escalonado para
tocar no concerto de abertura, com o quarteto Aziza*, viu-se entretanto
substituído por Kevin Eubanks. Dentro do espírito do festival, não foi nada má ideia
– afinal, Eubanks e Dave Holland, fundador dos Aziza, gravaram juntos pela
primeira vez em “Extensions”. E, no fundo, é disso que agora se trata: de
chamar a atenção para uma série de extensões a uma cabeleira com raízes nos
Estados Unidos cuja qualidade foi sendo reconhecida em todo o lado do mundo
menos aí. Há exceções, claro, que no entanto só parecem vir confirmar a regra:
e Holland será precisamente uma delas desde que, em 1968, Miles Davis o levou
pela mão de Inglaterra até ao outro lado do Atlântico. Crucialmente para esta
história, e para a música que Holland faz hoje nos Aziza, o contrabaixista
levava na bagagem um estágio fundamental com os sul-africanos Brotherhood of
Breath, de Chris McGregor. Trata-se de um critério praticamente ideológico que
se diria plasmado noutras páginas desta programação. Pense-se no insigne
Uplift, de Dave Douglas (15.11), Jon Irabagon (em substituição de Joe Lovano),
Mary Halvorson, Rafiq Bhatia (no lugar de Julian Lage), Bill Laswell e Ches
Smith (na vez de Ian Chang) – a música que o sexteto vem tocar foi sendo ao
longo do ano dedicada a causas como o direito de voto, a igualdade racial, os
direitos das mulheres, os direitos LGBTQ, o acolhimento de emigrantes, o
direito à saúde, diplomacia, ciência e educação, humanidades e cultura,
regulamentação da posse de armas, ecologia, fraternidade, enfim, o coletivo.
Dir-se-ia, aliás, uma condição indispensável para se entender a música de
Steven Bernstein (10.11), Avishai Cohen (16.11) e da Mingus Big Band (17.11),
de quem se esperam atuações capazes de renovar a esperança na espécie.
* Na foto: Eric Harland, Dave Holland e Chris Potter, 3/4 do quarteto Aziza
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