Deu sobretudo que falar há coisa de dez anos,
por conseguir conciliar o inconciliável e, enquanto solista, num mesmo recital
interpretar quer o “Concerto para Violino Nº 2”, quer o “Concerto para Piano Nº
1”, de Mendelssohn. Mais tarde, à medida que os seus (e)feitos de
menino-prodígio pareciam já coisa do passado, estreou-se em disco a tocar
Debussy e Stravinsky, por um lado, e, por outro, enquanto Tau Tau, um projeto
paralelo de Synth-pop, a cantar frases como: “How does it feel to grow up in the midst of the so-called fracturing of
our generation's consciousness?” Como é óbvio, neste contexto, falar de
incompatibilidades e contradições será como querer discutir o sexo dos anjos. Mas,
em termos teóricos, estendeu-se gradualmente pela sua discografia algo que terá
que ver com essa espécie de dualismo: em “Voyages” (2013) apresentou originais
seus e uma peça de Meredith Monk ao lado dos mais canónicos Ravel e
Rachmaninoff; em “Pictures” (2015) emparelhou Elliot Carter, Toru Takemitsu,
David Lang e Mussorgsky. Pois, Conrad permanecia a mesma pessoa que tinha ido para
além do universo da música clássica – ou ficado aquém, está em aberto – ao
criar um mashup com ‘Everytime’, de
Britney Spears, e ‘Falling’, do genérico de “Twin Peaks”.
Não admira que, ainda
o mês passado, em entrevista ao “The New York Times”, tenha sugerido que
justapondo Bach com Carter não está a “diminuir o fosso que os separa mas, sim,
a fazer com que possam ser ouvidos de outro modo”. Agora, porque também este
“American Rage” dá mostras de poder ser entendido de duas maneiras distintas,
dir-se-ia termos passado da conceção filosófica da vida baseada na presença de
dois princípios para a da figura de linguagem: de facto, num título tão provocador,
a palavra rage possui duplo sentido
e, no fundo, diz tanto à fúria quanto ao furor. O que é uma forma aproximada de
descrever aquilo que, aqui, requerem “Which Side Are You On” e “Winnsboro
Cotton Mill Blues”, de Frederic Rzewski, “Sonata para Piano”, de Aaron Copland,
e “Compassion”, de Julia Wolfe. E o pianista bem pode passar da raiva à
reflexão e à resignação, que jamais compromete a força motriz por trás de cada
obra: a desta gente que compõe para decifrar um mundo que, por vezes, insiste
em não a querer compreender.
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