No seu livro sobre Mobuto, “In the Footsteps of Mr Kurtz”, Michela Wrong descreve o paradoxo entre a pobreza nas ruas de Kinshasa e o luxo nas discotecas de Paris, com Papa Wemba, Koffi Olomide ou Kanda Bongo Man embrulhados em Gaultier. Mentes preocupadas exigiam rapidez na pista de dança e pelos anos 80 e 90 a música no Congo resumiu-se a um plano de fuga. Tudo foi piorando com Wenge Musica, Awilo Longomba ou Werra Son. Agora, inesperadamente, refunda-se a energia criativa mais poderosa do continente enquanto manifesto civilizacional. E será necessário relembrar Franco e a OK Jazz cantando a infância da independência congolesa, há 50 anos, para se encontrar outro momento capaz de traduzir da mesma maneira o que aí significará almejar a liberdade. É um regresso à rumba – esse eco de outro eco – e à memória de African Jazz, Nico Kasanda ou Tabu Ley Rochereau. E a rigor: com ritmos e palavras retirados a James Brown e o essencial da mensagem de Bob Marley. Guitarras, baixo acústico, percussionistas e um solista sem precedentes, gravados à noite, sob as árvores, por um Vincent Kenis que por mais mundos que inventasse nos Aksak Maboul nunca haveria de ter chegado a este. Continuem a tocar ao fim da tarde e pode ser que voltem os animais ao Zoo e as cores às acácias.
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