Os sinais da crise não são de agora. E já não há ‘tubarões’ na indústria fonográfica. Ainda assim, nada aguça tanto velhos instintos quanto a visão de um cadáver em queda rumo às profundezas. A presente edição resume-se numa frase: “O diferencial para as demais coletâneas em CD é que esta caixa dá cabo de suas mais variadas fases”. Sim em sentido figurado, mas não. Não sem ‘A Banda’, ‘Olê, Olá’, ‘Com Açúcar, com Afecto’, ‘Retrato em Branco e Preto’, ‘Carolina’, ‘Construção’, ‘Bárbara’, ‘Cálice’, ‘Pedaço de Mim’, ‘Pivete’, ‘Tanto Mar’ ou ‘Morena de Angola’. E ainda menos quando ‘Samba e Amor’, ‘Cotidiano’ ou ‘Samba do Grande Amor’ são regravações ou ‘ao vivo’. E o impulso de concentração temática em cada CD mais não faz do que repetir o ensaiado pela Polygram, em 1994 – nos 50 anos de Chico –, com os volumes “O Amante”, “O Cronista”, “O Malandro”, “O Trovador” e “O Político” (convirá esclarecer que mesmo essa intenção unificadora da obra só poderá ser valorizada num mundo pré-iTunes – hoje, e desde há tempo suficiente, ao organizar o repertório como bem entende, qualquer fã de Chico com discos e acesso a um computador dispensará transversais leituras em segunda mão). Por isso também não se tornará “essencial” o que ignore “O Grande Circo Místico” ou o que inclua ‘Fado Tropical’ numa versão sem guitarra portuguesa. Isto de um autor com dezenas de antologias nas lojas, além das caixas “Construção” (22 CDs) e “Francisco” (12 CDs e 2 DVDs). Aqui, nem o documentário “Chico ou o País da Delicadeza Perdida” é inédito. Claro que a música agora desperdiçada permanece de cinco estrelas, com sambas de joelho esfolado, valsas de nariz fungado, bossas de barquinho a deslizar, choros murchos de sombra de árvore ou boleros de perfumadas meninas tristes. Lula da Silva pode ter ignorado a sugestão de Chico em criar o preventivo Ministério do “vai dar merda”, mas que as editoras não o tenham ouvido é outra história.
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