Faleceu no passado dia 11 de julho,
aos 76 anos, e após doença prolongada, o músico norte-americano Charlie Haden.
Assim o divulgou a sua viúva, Ruth Cameron, e anunciou a ECM, editora que acaba
de colocar à venda “Last Dance”, disco de duetos entre Keith Jarrett e o
contrabaixista e compositor agora desaparecido. Para os anais, enquanto líder,
em coletivos de geometria mais ou menos variável marcados pelos humores do associativismo
ou como instrumentista convidado, fica uma vastíssima discografia, não
exclusiva ao idioma do jazz, que possui como primeiro ponto alto os incensados
e controversos álbuns gravados com o quarteto de Ornette Coleman entre 1959 e
1961 e, possivelmente, como segundo, a sucessão de LP registados entre finais
de 60 e meados de 70 com o ‘quarteto americano’ de Jarrett. Mas para a História
fica, também, a estreita relação de Haden com o Portugal de Abril. Em
“Closeness”, de 1976, o seu mais notoriamente inaugural disco a solo, estreia ‘For
a Free Portugal’. O tema goza de características surreais, com Paul Motian em
idiofones de tribalismo mágico e uma colagem do hino do MPLA com a voz do
comandante das FAPLA José Mendes de Carvalho e uma gravação da célebre interjeição
de Haden realizada a 20 de novembro de 1971 no 1ª Festival Internacional de
Jazz de Cascais: “A próxima canção é dedicada aos movimentos de libertação do
povo de Moçambique, Guiné e Angola”. Como se sabe, a ousadia valeu-lhe a prisão
pela PIDE, um breve interrogatório, e, dois dias mais tarde, graças aos ofícios
do adido cultural da embaixada norte-americana em Lisboa, uma escolta até ao
aeroporto. Em 1978 regressaria para atuar na “Festa do Avante!”. Em 1983 inclui
uma versão de ‘Grândola Vila Morena’ – dir-se-ia passada na República de Weimar
– no álbum “The Ballad of the Fallen”, que tem Carla Bley como coautora. Em
1990 atua com Carlos Paredes no Coliseu dos Recreios e juntos editam
“Dialogues”, um disco sobre os limites da comunicação. Charlie Haden foi pela
liberdade incondicional.
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