Sempre
que uma destas pérolas dá à costa, logo vem à memória “Why Didn’t They Ask
Evans?”, de Agatha Christie. Pois, a verdade é que até se poderia dar o caso –
como uma e outra vez aconteceu – de Bill Evans dizer que sim: desse modo, a
legião de engenheiros de som que tirava o curso por sub-repção nos seus
concertos, noite após noite, poderia, enfim, destapar os microfones e
gravadores que mantinha ocultos sob as toalhas de mesa dos clubes de jazz. Um
dos mais famosos reincidentes no delito era um francês a que chamavam “Jo”, um
fanático impossível de reabilitar que durante onze anos acompanhou as
digressões de Evans pela Europa com material de espionagem atrás – com um
Beyerdynamic junto aos pés e um Uher preso entre os joelhos, foi ele que gravou
este(s) concerto(s), no Ronnie Scott’s, em Londres, em dezembro de 1969, a
tremer de medo e a reprimir a vontade de genufletir, calcula-se.
E não era para
menos: um ano depois da tournée com Eddie
Gómez e Jack DeJohnette (ouvir, na mesma Resonance, “Some Other Time: The Lost
Session from the Black Forest” e “Another Time: The Hilversum Concert”,
captados em junho de 1968), Evans apresentava novo trio, com novo baterista,
Marty Morell, cujo único crédito digno de nota, embora com direito a errata (no
LP lê-se Morrell), advinha da sua participação em “The Sorcerer”, de Gábor
Szabó. Acima de tudo, porque, a tocarem juntos há um ano (e, já agora, ainda
nesta editora, pode confirmar-se que, aqui, não soam de todo ao que soavam em
outubro de 1968, quando ficou registado “Live at Art D'Lugoff's Top of the
Gate”), criavam-se, por fim, e novamente, as condições para que Evans tivesse à
sua volta gente com que pudesse “verdadeiramente conversar, interagir, dançar,
cantar, produzir este tipo de energia cerebral mas muito expressiva”, conforme
relata Gómez em notas de apresentação, e como não tinha desde a dissolução do
trio com LaFaro e Motian. De facto, há poucos documentos, destes, ao vivo, em
que o pianista se entregue incondicionalmente ao momento e desligue o piloto
automático, com ponto alto em ‘Sugar Plum’, original cuja presente fixação
antecipa a da cronologia oficial (havia sido estreado em 1971, em “The Bill
Evans Album”). Histórico, nem que seja por isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário