No início dos anos 50, quando estreou o seu
“Concerto para Violino e Quarteto de Cordas”, Allan Pettersson foi caracterizado
como um “modernista controverso”, um “expressionista sem igual”, um daqueles compositores
de obras tecnicamente tão complexas que praticamente obrigavam os seus
intérpretes a andar de canivete suíço no bolso. Volvido um quarto de século, quando
escreveu este “Concerto para Violino Nº 2”, dava-se por si no asilo dos
sinfonistas escandinavos, como se o pós-modernismo não tivesse sido mais que
uma lomba que apanhou no caminho – em 1977, de facto, compor para orquestra em regime
sinfónico seria tão anacrónico quanto, no cinema, realizar um western passado no século XIX quando o
género havia já ingressado na era espacial, com “A Guerra das Estrelas”. Mas,
se alguma coisa, a produção de Pettersson veio aos poucos provar que o minimalismo
não era a única alternativa ao maximalismo, que o contrário do serialismo, por
exemplo, não teria forçosamente de ser o neoclassicismo – aliás, conforme
explicava Michael Nyman em “Experimental Music”, e em extrapolação para termos que
só mais tarde seriam adotados, era muito provável que Nova Simplicidade e Nova
Complexidade se alimentassem uma da outra.
Não obstante, de acordo com um
confidente, Pettersson tentava descrever a “luta do homem comum contra Brejnev”
– em plena Guerra Fria, era como se solista e orquestra viessem de cada uma das
extremidades do eixo da Terra. Nessa perspetiva, então, explica-se uma
aproximação concetual – e, aqui e ali, mais do que isso – ao que fizeram Bartók
ou Hindemith, que dramatizaram como poucos o desequilíbrio inerente ao conflito
entre estas duas forças. Nas suas próprias palavras: “O ser humano procura
escapar a uma realidade em que aquilo que representa é permanentemente apagado
por sistemas ideológicos que se manifestam através do homicídio e do
fratricídio. É nessa paisagem noturna que se escuta uma canção ao violino”, uma
espécie de hino para a emancipação do indivíduo. Trata-se de um tema do ciclo
“Canções do Pé-Descalço”, dos anos 40, cujos constituintes são neste concerto aplicados
em método recursivo – uma bomba que detonou no caminho rumo ao asilo dos
sinfonistas escandinavos. Chamava-se esperança.
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