Pode ter um título destes à vontade, que nem por um segundo,
sequer, se imagina ter sido composto à última da hora. Aliás, não será exagero
nenhum afirmar que Nabatov teve de esperar duas décadas para que finalmente se
reunissem as condições que lhe permitissem superar o enunciado em “The Master
and Margarita” (gravado em 1999, em Colónia, com recurso a um quinteto em que
figuravam Herb Robertson, Mark Feldman, Drew Gress e Tom Rainey). Claro que,
aí, então, a sua escrita seguia embalada pela do romance homónimo de Mikhail
Bulgakov, que, por sua vez, sabia já bater o pé ao ritmo deste andamento (uma
citação: “E exatamente à meia-noite algo estrondou na primeira sala, tilintou,
desabou, começou a pular. […] Era o famoso grupo de jazz (…) que começava a
soar. Os rostos cobertos de suor pareciam reluzir, era como se os cavalos
desenhados no teto estivessem vivos, as lâmpadas pareciam irradiar mais luz e,
de repente, era como se as duas salas tivessem perdido as estribeiras e caído
na dança.”).
Aqui, agora, este novo quinteto de Nabatov (não menos superlativo
que o outro, constituído que é por Tony Malaby, Brandon Seabrook, Michael
Formanek e Gerald Cleaver) não se vê sustentado de modo intravenoso pela
literatura. Ou melhor, tudo nele é mais alusivo e aluado, disfuncional e
funambulesco, como quando se aplica o filtro de um filme ao preto e branco das
páginas de um livro – e, pondo-o a tocar, o que logo salta à memória é “The
Shining” (1980), com aquela música das orquestras de música ligeira dos anos 20
e 30 que se ouvia no seu Salão Dourado a parecer tão anacrónica para a altura
quanto neste contexto se prova ser um tema inicial chamado ‘Old Fashioned’.
Trata-se de um estranhamento que o disco não cessa de articular de maneira
narcótica e narcísica – e até quando o cânone se insinua (como em ‘Afterwards’,
que cita ‘Inútil Paisagem’, de Jobim) se pressente a insídia, com a guitarra
elétrica de Seabrook a ameaçar perder de vez a razão e gritar: “Here’s Johnny!”
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