Mais um capítulo desta saga, nove meses – apenas – após a
edição de “Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery”. Portanto, dir-se-ia que
“King Shabaka” (Shabaka Hutchings, saxofone tenor), “Danalogue” (Dan Leavers,
sintetizadores) e “Betamax” (Max Hallett, percussão) nos guiam da conceção ao
parto de um admirável mundo novo. E dão mostras de ser de tal forma movidos a
alcaloides que até fica bem lembrar uma frase, aí, da bíblia de Huxley: “Mas eu
não quero conforto. Quero Deus. Quero poesia, o perigo autêntico, a liberdade, a
bondade. Quero o pecado. […] O direito de ser infeliz. De não ter o que comer
[...] e de viver em contínua apreensão face ao dia de amanhã.” Pois, não seja
por isso. A abrir “The Afterlife”, na voz de Joshua Idehen, no papel de
terceiro anjo do Apocalipse, surge esta advertência: “The comet is coming/
Babylon burn down/ Our time has come/ Our clock has run down.” Para evitar a
escatologia cristã, esse corpo celeste encontra-se igualmente no “Épico de
Gilgamesh” ou no “Popol Vuh”, por exemplo: “De além do céu, caiu uma grande
quantidade de resina [que] acabou por [consumir o Homem].” De facto, a fechar o
disco, em ‘The Seven Planetary Heavens’, dá-se por nova ressonância babilónica
e, de repente, parece que temos em mãos um título da Impulse! contemporâneo de
“Universal Consciousness” (1971) e de “Lord of Lords” (1972), de Alice
Coltrane, ou de “Astro Black” (1973) e de “The Nubians of Plutonia” (1974), de
Sun Ra – daqueles em que revelação e redenção andam de mãos dadas com o desejo
de repatriação e renovação da espécie (há aqui notas pedais em ação de terraplanagem
intergaláctica e arpejos arcangélicos a acompanhar cada feto dado à luz). Mas não
há hipótese: ligar a válvula de oxigénio de uns ao tubo de escape de outros é
sempre cataclísmico.
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