Perguntam-lhe o que une estes
concertos, ao certo, e Janine Jansen responde com desfaçatez, falando na
tonalidade daquelas quatro notas com que Bartók tentou captar o espírito de
Stefi Geyer (“Este é o teu leitmotiv”,
escreveu o compositor à violinista, numa apaixonada dedicatória com o seu quê
de redundante). De facto, quer a sequência inicial deste concerto de Bartók quer
a obra-prima de Brahms se encontram em Ré maior – e o que salta à memória é a
reação de Brahms à noite de estreia do seu opúsculo, cujo programa abria com o
“Concerto para Violino”, em Ré maior, de Beethoven: “Isto foi muito Ré maior e
pouco mais!” Seja como for, dir-se-ia que, no intuito de estabelecer ligações
entre as duas obras, se descurou o óbvio. Isto é, os materiais de promoção da
Decca são fartos em referências à congenialidade magiar das peças – por
batismo, presume-se, explícita no caso do húngaro, e, não tanto por via das
suas famosas “Danças” mas mais em virtude das suas relações com Eduard Reményi
e, naturalmente, com Joseph Joachim, a quem este concerto foi dedicado, implícita
no do alemão – e totalmente estéreis em alusões a essoutro enlace fundamental
que importaria referir: é que à data de composição deste seu concerto para
violino (1907-1908), e quiçá tanto quanto a de Richard Strauss, era a
influência de Brahms que Bartók mais acusava. Ou seja, a chave para o entendimento
de ambas é, ainda, o romantismo, para não dizer só o afeto. Daí a mesma pletora
sinfónica de entupir veias e artérias que se lhe reconhece, o mesmo virtuosismo
vorticoso, a mesma voluptuosidade. Para uma visão mais acutilante de Bartók,
entre as recentes, há que consultar a de Isabelle Faust e Daniel Harding, mas a
verdade é que, aqui, Jansen e Pappano realizam a mais equilibrada leitura de
Brahms em muito tempo.
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