Nem sempre com sucesso, Mendelssohn procurava transferir
para as suas composições alguma imediatez: “Para ficares com uma ideia do
extraordinário efeito que as Hébridas produziram em mim envio-te isto [as
primeiras notas da futura Abertura], que compus no local”, dizia ele à sua irmã
Fanny, em 1829, num postal que lhe mandou da Escócia; “Tenho um [Concerto para
violino] em mente, em Mi menor, cujo início não me está a dar descanso”,
confessava ao virtuoso Ferdinand David, em 1838. É certo que a sua escrita epistolar
se alimentou mais a alcaloides do que a musical, mas, ainda assim, é raro
encontrar uma gravação, como esta, que ambicione refletir o que possuiu de mais
pletórico, violento e repentino, isto é, que tente situar com maior exatidão aquele
momento em que na sua obra veio ao de cima o fulgor e a frescura de uma juventude
que, no fundo, nada teve de convencional – um famoso menino-prodígio, Felix Mendelssohn
morreu há exatamente 170 anos, a 4 de novembro de 1847, com 38 anos de idade. Agora,
dir-se-ia que nem Isabelle Faust nem Pablo Heras-Casado têm igualmente tempo a
perder. Aliás, no “Concerto para Violino em Mi menor”, não fosse a judiciosa
ausência de vibrato, a alemã parece
agir sob delírios e ardores contínuos. Em particular no avassalador Allegro molto appassionato inicial e
respetiva cadência, a um mundo de distância dos frufrus de Menuhin e dos
acetinados de Chung, por exemplo, tudo em si tanto pulsa quanto as congestões e
inflamações na partitura palpitam. Já o espanhol está mais convincente a
acentuar contrastes em “As Hébridas” do que a acender pauzinhos de incenso na
“Sinfonia Nº 5 em Ré menor”, dedicada àquela Reforma Protestante que fez há
dias 500 anos.
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