Como diz a certa altura a Diana de “Diane au bois”,
de Théodore de Banville: “A música divina! A despeito de mim, atrai-me esse
doce ruído. E eu sigo-o.” Trata-se de uma frase feita à medida de Claude
Debussy, falecido há 100 anos. Quando a adaptou, na temporada passada na Villa
Medici, em Roma, como bolseiro do Grand Prix de Rome, que conquistou em 1884, o
compositor chegou a ponderar submetê-la à consideração da Academia de Belas
Artes, uma das suas obrigações enquanto laureado. Como se sabe, ao invés,
sujeitou à aprovação do júri “Zuleima”, “Printemps”, “La Damoiselle élue” e
“Fantaisie”. O que não se sabe é se a reação que motivou o encheu de vergonha
ou de vaidade: conforme se lê na biografia que lhe dedicou o musicólogo
François Lesure, determinou-se após exame atento e demorado que “o artista em
residência parece estar unicamente interessado em produzir uma obra estranha,
bizarra, incompreensível e impossível de interpretar”. Pensando bem, na altura,
envolvido que se via na autotélica conceção parnasiana da “arte pela arte”,
terá encarado a resposta como um elogio. Apresentada como “Fragmento para
soprano, tenor e piano”, respetivamente com Natalie Pérez, Cyrille Dubois e
Jean-Pierre Armengaud, a “Diane au bois” de Debussy foi gravada entre julho e
setembro de 2017 de modo a figurar, enfim, na integral “The Complete Works” (33
CD, Warner), lançada este ano.
Agora, com “Centenary Discoveries”, a mesma
editora passa esse e outros inéditos em disco pela peneira. Um dos achados
principais é “Chanson des brises”, para soprano (Sabrine Revault d’Allonnes), coro
feminino (Ensemble Les Essenti’elles) e piano a quatro mãos (Philippe Cassard - na foto - e
Jonathan Fournel), composta imediatamente antes da sua partida para Itália,
quando vivia sob o feitiço de Marie Vasnier. Outro, claro, o esqueleto de uma
ambicionada ópera baseada em “A Queda da Casa de Usher”, de Poe, na qual, de
forma intermitente, trabalhou durante dez anos sem jamais deixar de se
identificar com o pobre Roderick – “Será possível que isto represente
igualmente a queda de Debussy?”, escreveu a Paul Dukas. No fundo, encontra-se
aqui um Debussy que não era bem ele nem outro qualquer. E a descoberta vale
ouro.
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