No âmbito de uma tese de doutoramento, em 2005, a
investigadora Tara Jane Wilson falou com Alexander Knaifel. E quando abordou a
questão do minimalismo ele reagiu imediatamente: “Definir aquilo que fazemos
como minimalista significa passar ao lado do essencial. Na Rússia, somos antes
considerados maximalistas – somos icebergues musicais”, concluía. Ou seja, Knaifel,
ao referir-se conjuntamente à sua obra e à daqueles com que normalmente surge
alinhado (gente da vanguarda soviética de 70, tão variada quanto Martynov,
Korndorf, Pärt, Gubaidulina, Rabinovitch, Silvestrov ou Mansurian), admitia que,
no geral, em termos de linguagem, seria menos importante o que revelavam do que
o que muito propositadamente deixavam oculto. E não se referia apenas às
vicissitudes da vida em ditadura, claro. A sua tomada de posição – como toda a
grande arte russa, aliás – deverá mais à ética do que à estética.
Aqui, seja
como for, neste conjunto de singularíssimas obras para coro, para piano e para
piano e voz, fica bem patente o que queria dizer. Repare-se em “Esta Criança”
(a partir de salmos da liturgia ortodoxa), em “Confissão” ou em “Lukomoriye” (a
partir de Pushkin, estes), em que ao intérprete é fornecida a partitura e o
texto com a seguinte indicação: “Estes versos devem ser entoados mas jamais
ouvidos [pela audiência, entenda-se].” A prática traz à memória o que o músico
de jazz norte-americano Lester Young dizia acerca da necessidade de saber as
letras das canções que tocava ao saxofone. Trata-se de uma experiência
praticamente existencialista. Em 1984, noutra entrevista (citada por Svetlana
Savenko num ensaio sobre o compositor, incluído em “Underground Music from the
Former USSR”), Knaifel adiantava que “devemos ter consciência de que aquelas
intensas sensações, tão difíceis de explicar, que no nosso âmago despontam e
que de nós tomam conta, normalmente coincidem com as coisas simples da vida.” Dir-se-ia
que a sua música corre para esse ponto, mesmo se pouco ou nada depende das
convenções do seu tempo ou sequer das de tempo algum. Talvez por isso seja tão
gravada em igrejas.
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