Mais
abrangente que o primeiro, o segundo volume de “African Scream Contest” tem
início em 1963, no ano em que Hubert Maga foi afastado da presidência da República
do Daomé – num livro de Dov Ronen (“Dahomey: Between Tradition and Modernity”),
de modo a justificar a tomada de poder político pelos militares, identificam-se
causas como o “estilo de vida luxuoso dos governantes, o aumento abusivo do
número de cargos ministeriais, as exigências sociais insatisfeitas, as
promessas não cumpridas, o aumento do custo de vida e as medidas
antidemocráticas que martirizavam o povo e o reduziam a nada”. O costume. Faltava
só mencionar o elefante na sala: tensões tribais. De facto, nove anos e cinco
golpes de Estado depois, quando Kérékou lançou a futura República Popular do
Benim na marcha triunfal rumo ao marxismo-leninismo, era a desintegração da
pluralidade étnica do país que dava mostras de pretender. Estava a tapar o sol
com a peneira, conforme o tempo veio a provar.
Mas a verdade é que enquanto
permaneceu à frente do governo se promoveu aquele tipo de folclore apócrifo que
imediatamente reconduziu aos subterrâneos a mais fraturante música da nação,
produzida por nomes como Sympathics de Porto Novo, Ignace de Souza, Sunny Black’s
Band, Picoby Band d’Abomey, Antoine Dougbé, Black Santiago, Lokonon André et
Les Volcans, Super Borgou de Parakou, El Rego et ses Commandos, Gnonnas Pedro
ou, o maior entre eles, Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou (na foto). Desde 2008, logo após
a fundação da Analog Africa, Samy Ben Redjeb tem-se dedicado à escavação do seu
passado, olhando agora para o gira-discos como arqueólogos terão um dia visto a
boca do sarcófago de um faraó. Numa entrevista recente, falou nestes termos:
“Tropeçar na música do Benim foi como receber uma dádiva de Deus. Não sou
crente, mas acho que cada ser humano recebe uma bênção uma vez na vida – essa
foi a minha. Aqui, há sempre algo de muito familiar, mas é como se ouvíssemos música
de um universo paralelo.” De um universo em que a poesia se tivesse sobreposto
à política, por exemplo, ou de outro em que se pudesse viver para sempre. E, na
maior parte dos casos, é precisamente disso que tratavam estes escravos do
ritmo do vodu.
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