Aos EUA chegavam boas novas de Guadalcanal, uma das
Ilhas Salomão. Aliás, por todo o teatro de operações do Pacífico falava-se em
avanços das Forças Aliadas, da Operação Cartwheel à Operação Hailstone ou das
Carolinas e da Nova Guiné às Aleutas, no Alasca. Ao mesmo tempo, durante a
Batalha do Atlântico, deu-se o Maio Negro, em que se infligiram perdas
significativas na Marinha alemã. Já na Frente Oriental, após a Batalha de
Estalinegrado, em que se contaram cerca de 120 mil baixas húngaras entre as
forças do Eixo, travava-se a Batalha de Kursk, com a contra-ofensiva soviética
a mostrar-se capaz de voltar a travar o blitzkrieg.
De repente, estávamos em agosto de 1943, a um mês da Invasão da Itália pelos
Aliados, e Béla Bartók, desde 1940 exilado em território norte-americano,
sentiu-se subitamente alerta e revigorado, com menos tonturas e dores de
cabeça, com a leucemia em remissão.
Num rasgo de inspiração compôs “Concerto
para Orquestra”, com aquele dispositivo praticamente cinematográfico a abrir,
em que uma procissão de notas lentas conduz a ação da cidade para o campo e
atravessa o oceano num voo noturno até fazer escala no Norte de África e,
depois, na Europa Central. Aqui, é no segundo andamento – uma espécie de jogo
de pares em que, dois a dois, em intervalos de sexta, terceira, sétima, quinta
e segunda, participam fagotes, oboés, clarinetes, flautas e trompetas – que
Heras-Casado (na foto) extrai o mais inusitado à sua orquestra. Quanto aos momentos mais
grandiloquentes de Elegia ou Finale, a verdade é que esta acentuada
oscilação entre desespero e esperança soa algo simplista. Curiosamente é no
“Concerto para Piano Nº 3” que o espanhol – ou melhor, os espanhóis, pois
Peranes revela-se exemplar – se prova mais apto a lidar com estes extremos na
contrastada escrita de Bartók, porventura pelo seu carácter algo rapsódico,
pelos seus episódios cromáticos, pelas suas síncopes, por aquelas linhas
melódicas que desatam a cantar como se não houvesse amanhã. E não havia, claro.
O compositor faleceu em setembro de 45 a reconciliar-se com a Alemanha de Bach,
Beethoven e Brahms.
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