Afinal,
não tinha ficado tudo dito, longe disso, pese embora se prossiga pelo caminho indicado
por Alton Ellis em ‘Black Man’s Pride’ precisamente, há coisa de um ano
incluído no primeiro volume desta série. Aí, escutava-se a sua voz e o que
saltava à memória era o canto do rouxinol em “A Terra Devastada”, de Eliot,
basicamente a pregar no deserto, distante do mundo dos homens, inviolável mas
incompreensível. Trata-se de um sentimento extensível a muitos dos que aqui se
ouvem, a tradução de uma monstruosidade literalmente tatuada na pele (“Oh, eu
não nasci para vencer / Pois sou um homem negro”, lamentava-se Ellis): de que viver
tão longe do sítio de onde se veio é o mesmo que morrer no meio de lugar nenhum.
Daí, quiçá, para cobrir tal distância, esta arregimentação sem precedentes
entre os desapossados de Kingston, parte de uma tribo em tudo periférica – que não
invisível – ao planeamento urbano: os rastafári. Ou seja, regressa a Soul Jazz ao
Studio One como terreno fértil para analisar o impacto da modernização nas
estruturas sociais jamaicanas, espécie de balão-de-ensaio para as experiências
mais dissociativas, através de gente como Ellis, novamente, Horace Andy, Heptones,
Gladiators, Ernest Wilson, Prince Lincoln ou Count Ossie, à frente de um
pelotão de desconhecidos que, não obstante, soube reclamar a sua quota-parte
neste ato de imaginação coletivo: o da cidade enquanto centro cívico, comercial
e cultural. Por enquanto, claro, ali entre os anos 60 e 70, entrincheirada em
bairros de lata, estava longe de o ser – mesmo se o planeta inteiro começava a
mostrar-se sensível às palavras de Bob Marley, Bunny Wailer ou Peter Tosh, cronistas
da desigualdade social com sede nas barracas de Trench Town. Aliás, volta-se à compilação
e percebe-se que, conquanto nada peregrina, a verdadeira questão, aqui, é: como
é que o lugar a partir do qual se lança a semente da transformação no mundo é o
mesmo que resiste mais a qualquer mudança? É essa a tragédia da Jamaica. E a nossa.
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