O jazz funciona muitas vezes como uma música de
proximidade. Aliás, no seu começo, parecia já de tal modo íntimo dos seus
comunicadores e confidentes que foi batizado com uma expressão extramusical. Um
facto que nunca deixou de surpreender teóricos, a ponto de Gunther Schuller o
considerar acima de tudo um “fenómeno sociológico”. Volvidos mais de 100 anos
desde a sua fixação em disco, continua a eludir restrições mais categóricas – o
que não deixa de constituir prova da enorme capacidade de adaptação das suas
células radicais. Uma condição, claro está, que se dirá relativa a múltiplas direções.
Andy Sheppard [na foto], por exemplo, cuja aproximação social e afetiva a Portugal terá
feito aumentar a familiaridade da paróquia com a sua obra desde que há coisa de
um ano se mudou para a zona de Mafra, em entrevista a “Jazz.pt”, afirmou: “A
certa altura, quando estava em Londres, estive muito ativo na cena free. (…) É uma música que acontece no
momento, é muito libertadora. Mas comecei a achar que era estranhamente
restritiva. (…) Também é bom ser livre dentro de uma estrutura, e pessoalmente acho
isso mais interessante.” Enfim, será algo a que as suas plateias saberão
responder: toca hoje à noite em Lisboa, no Hot Clube, e antes de acabar o mês subirá
ao palco do SeixalJazz com Carla Bley. Outro músico que reflete sobre coisas do
género é Nate Wooley – “o debate sobre o que não é, nem deixa de ser jazz é o
exemplo acabado de uma dinâmica social que gera dano e desunião”, escreveu em
“Sound American”, a propósito de um inquérito que promoveu junto de 50
compositores e instrumentistas. Então, concluiu, a maior parte dos inquiridos
não se mostrou interessada em falar de exclusão. Uma “reação natural”,
considerou, “tendo em conta que se há coisa que define historicamente este
debate é o desejo expresso por alguns grupos de não admitir a entrada a certos
indivíduos na tradição do jazz” – toca dia 10, a solo, no ciclo “Solilóquios” do
Yoga Sobre o Porto. Na mesma semana, dia 9 na Casa da Música e dia 15 no Casino
Estoril, estará entre nós Egberto Gismonti, de que também se diz ter o hábito
de transcender classificações quando o que sempre fez foi inventariar um
repertório próximo das raízes do jazz a que poucos prestaram atenção. Um
interesse do Outono em Jazz, na Casa da Música, em que se destaca Tarkovsky
Quartet (domingo), Ambrose Akinmusire (23) e Rudresh Mahanthappa (28).
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