Acerca
do ator, essa insinuante, insistente e incómoda criatura que mais sincera se
prova quão mais vulnerável à psicose se declara, num poema, escreveu Brendel: “Que
considerável façanha/ Noite após noite/ Exercer em palco/ Destemidamente/ Sem
mostrar sinais de fadiga/ Senão mesmo com o mais completo zelo/ Uma atividade/
Que a maior parte de nós gostaria de manter privada/ Nomeadamente/ Fazer amor.”
Terá sido, então, com receio de começar a mostrar sinais de fadiga que Brendel se
afastou em dezembro de 2008 da atividade em que mais se distinguiu durante as
seis décadas precedentes: a de pianista de concerto. Fê-lo em Viena, sem perder
a boa disposição, aos 77 anos dizendo adeus com o “Jeunehomme”, de Mozart. Agora,
em notas de apresentação, é nesse espírito que se refere, por exemplo, a certas
recomendações que Schumann legou a jovens intérpretes: “Como é que Schumann
dizia no seu ‘Musikalische Haus- und Lebensregeln’? ‘Toquem sempre de modo
flexível e audaz! Tocar dois compassos de seguida no mesmo tempo revela falta
de imaginação.’ Não, estava a inventar. Eis de facto o que ele escreveu: ‘Toquem
no tempo correto. Há virtuosos que ao tocar mais parecem um bêbado a cambalear’”.

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