Em
1995, triplicando no espaço de uma década, qualquer coisa como 30% dos
costa-marfinenses viviam abaixo do limiar de pobreza. Longe iam os tempos do miracle ivoirien, como é óbvio, quando a
taxa de crescimento económico anual do país, alavancada pela exportação de
cacau, se mantinha nos dois dígitos. Então, complicando a sucessão de Félix
Houphouët-Boigny, amotinava-se o exército, mobilizavam-se grevistas e, pior, em
campanha para as presidenciais, Henri Konan Bédié começava a falar de ivoirité. Jess Sah Bi e Peter One, que
dez anos antes tinham visto as suas músicas adoptadas por movimentos estudantis
(“Todos juntos/ Em torno do nosso objetivo”, cantavam, em ‘Katin’; “Porquê os
pobres? Porquê os ricos?”, interrogavam-se, em ‘Kango’; “Lembrem-se: estão a
lutar pelos vossos direitos”, esclareciam, em ‘African Chant’), perceberam que
não havia volta a dar e calmamente fizeram as malas. Partiram em direção aos
Estados-Unidos, passando as noites nos beliches da diáspora e os dias em
biscates, até assentar um em São Francisco e outro em Nashville, a capital
daquilo que faziam: música country.
Hoje,
em depoimentos coligidos para as notas de apresentação desta reedição, recordam
anos dourados passados a ouvir Kenny Rogers, Dolly Parton, Simon &
Garfunkel, Cat Stevens ou Crosby, Stills & Nash – em 1985, ao gravar este pastoral
“Our Garden Needs Its Flowers” nos estúdios JBZ, em Abijão, estavam, pelo menos
em espírito, a preparar-se para fazer o caminho inverso ao do Johnny Copeland
de “Bringin’ It All Back Home”, que,
na mesma altura, no mesmo lugar, procurava a raiz africana do blues. Na
medida em que, do período, através de compilações como “Ivory Coast Soul”
e “Akwaba Abidjan”, vêm mais depressa
à memória produções hedónicas do que edénicas (o jardim titular é o bíblico), o
retrato é algo excêntrico – de facto, pouco
aproxima Jess e Peter a luminárias da música popular ebúrnea como Ernesto
Djédjé, Pierre Antoine, Moussa Doumbia, François Lougah ou De Frank Kakrah. Mas
agora, porque se vive um momento em que se volta a falar da queda do Homem, nada
borra a fotografia.
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