A mais
famosa frase de Eric Dolphy vinha em desafio das leis naturais, numa espécie de
prótese criada para prolongar o final de “Last Date”, o primeiro de muitos
lançamentos póstumos que vieram provar que no seu caso existia mesmo vida
depois da morte: “Independentemente de rótulos, música é música”, ouve-se ele
dizer a um radialista holandês, à cata de significados. “E se pensarmos bem no
assunto, quando termina, desfaz-se em fumo – nunca mais a voltamos a apanhar.” Pois,
Zev Feldman não poderia estar mais em desacordo. Para o produtor da Resonance,
aliás, não há impossíveis nesse capítulo – e se um dia for necessário ir em
busca da Voyager para resgatar o Golden Record, é bem provável que ele se
candidate. Mas, por enquanto, não é preciso aguardar anos-luz nem vasculhar por
entre a poeira das estrelas para que volte até nós aquilo que Carl Sagan
caracterizaria como uma “mensagem numa garrafa lançada ao mar cósmico”.
Agora,
não propriamente numa garrafa mas, antes, numa não menos metafórica mala de cartão
que Dolphy deixou em casa dos amigos Juanita e Hale Smith (o compositor de
‘Feathers’, gravado por Dolphy em “Out There”, em 1960) antes de partir nessa
fatídica digressão europeia em que viria a falecer de complicações relacionadas
com a diabetes, a 29 de junho de 1964, e da qual se conhecia já parte dos
conteúdos desde que em 1987 a Blue Note lançou “Other Aspects”. O que
permanecia inédito e o que em boa hora chegou às mãos de Feldman é o que se
edita aqui: com uma irrelevante exceção, a porção mais significativa da integral
de gravações que Dolphy liderou a 1 e 3 de julho de 1963 para a FM, de Alan
Douglas, à qual foram extraídos os álbuns “Conversations” e “Iron Man” e que
tem como cereja em cima do bolo dois takes
até hoje inteiramente ignorados de ‘Muses for Richard Davis’ (duetos com o dedicatário
do tema, em mono, como tem de ser). Depois,
em ‘Love Me’, talvez se notabilize ainda outro par de takes a solo de Dolphy em que dava expressão ao que por alturas de
“Far Cry!” confessava a Nat Hentoff: “É como se não conseguisse parar de
encontrar um som que nem sabia existir – até agora!” É a mesmíssima razão pela
qual se mandam sondas para os confins do Universo.
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