Saxofone,
guitarra elétrica e bateria – configuração algo insólita, sim, mas nem por isso
particularmente inédita. Aliás, em meados dos anos 90, quando o trio de Tim
Berne, Marc Ducret e Tom Rainey gravava o incendiário “I Think They Liked it
Honey” e o de Joe Lovano, Bill Frisell e Paul Motian queimava os últimos
cartuchos, esteve inclusivamente em voga, com Paul Dunmall, John Adams e Mark
Sanders em “Ghostly Thoughts”, Briggan Krauss, Brad Shepik e Aaron Alexander em
“Fratelli” e Ellery Eskelin, Marc Ribot e Kenny Wollesen em “The Sun Died”. Agora,
nova referência solar, neste fogoso “Sun of Goldfinger”, em que David Torn se
põe a manusear elementos pesados, a modular uma matéria que se diria reduzida a
gás, a provocar reações em cadeia que visam libertar o máximo de energia, enfim,
a detonar bombas de hidrogénio na superfície plasmática de uma música
radioativa.
Nunca um trio destes o pareceu tão pouco – e, em rigor, em
“Spartan, Before it Hit”, não o é, com o seu núcleo central expandido com
outros sete constituintes em equilíbrio termodinâmico: Craig Taborn nos
teclados, Mike Baggetta e Ryan Ferreira em guitarras elétricas, além de um
quarteto de cordas cujo nome – Scorchio – diz tudo. Também Torn e Berne, em
depoimentos recolhidos pela ECM, falam do que aqui se passa como quem analisa
táticas de terra queimada: “Isto não é jazz, nem rock. Não se encaixa em
categorias”, isto “não se assemelha a nada. Não soa a Miles Davis. Não soa a
Snarky Puppy. Não soa a Weather Report. Não soa a Ornette, nem aos músicos de
Jajouka.” Já agora, não soa igualmente ao ensaio mais radical no género: isto
é, ao “The Topography of the Lungs”, de Evan Parker, Derek Bailey e Han Bennink.
Soa, antes, isso sim, ao que fazia alguém como Paul Schütze em “New Maps of
Hell”, por exemplo, ou nos ensaios com os Phantom City (que chegaram a incluir
Lol Coxhill e Raoul Björkenheim). Citando T. S. Eliot, a algo que escora as
suas próprias ruínas a partir de fragmentos. De facto, se o CD viesse com GPS,
apontaria para “A Terra Devastada”. Mas, aqui, nenhuma “mulher esticou os seus
cabelos negros/ e tocou música de suspiros nessas cordas” – foi Torn que
esticou os dele, e são da cor da cinza.
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