27 de abril de 2019

Agenda: 16º Festival Internacional de Jazz de Portalegre – Portalegre JazzFest


Composto por aglutinação a partir das palavras heart (coração) e earth (terra), eis que surge Hearth, o novo grupo de Kaja Draksler (piano), Ada Rave (saxofone tenor), Mette Rasmussen (sax. alto) e Susana Santos Silva (trompete). Claro que se o processo linguístico tivesse como elementos formadores heart e mothers (mães) seria mais engraçado: em alusão ao filme de Michael Lehmann (1988), Heathers daria um ótimo nome para uma banda de quatro mulheres. Se bem que, aqui, ninguém confundiria as inconformadas instrumentistas com essas Heathers propriamente ditas – olhem para a foto e digam lá se não as imaginam muito mais chegadas à personagem de Veronica (Winona Ryder)? Como ela, a cada festival, quase se adivinha terem vontade de afirmar: “[…] My lovethere's a new sheriff in town.” De facto, parecem hoje tão destinadas a questionar arquétipos, no jazz, quanto há 40 anos estavam as Slits, no punk. Ainda que, à partida, de modo involuntário, se é que podemos extrapolar com base no que declarou Santos Silva a “Jazz.pt”, há coisa de um ano: “a ideia […] não foi formar um grupo só de mulheres – juntámo-nos porque queríamos simplesmente tocar juntas. […] Agora, percebo que existia realmente alguma discriminação e certos preconceitos que se manifestam muitas vezes de formas subtis, dissimuladas e, até, imperceptíveis. É [uma questão] cultural. E isso sente-se particularmente em sociedades assentes em valores católicos e tradicionalistas, como [em] Portugal”. Curiosamente, ou não, é a Portugal que vêm fazer a sua primeira gravação, na Clean Feed, dando seguimento, na chancela, a um conjunto de discos dignos de nota que indicam que fizeram questão de discutir individualmente géneros de música antes de disputar coletivamente músicas de género: “The Lives of Many Others” (Draksler), “The Sea, the Storm and the Full Moon” (Rave), “A View of the Moon” (Rasmussen) ou “All the Rivers” (Santos Silva). Em Portalegre, no JazzFest, sobem ao palco de hoje a oito dias, às 21h30, e constituem o expoente de um programa que inclui, ainda, Marc Ribot (quinta, 21h30), Hedvig Mollestad Trio (sexta, 21h30), Carlos Bica/Daniel Erdmann/DJ Illvibe (sábado, 23h) e o quarteto de Caterina Palazzi que em 2018 lançou o perverso “Sudoku Killer” (2 e 3, 23h).


 


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