É o
próprio Frith que logo explica a que vem, em breve nota introdutória: “Entre
2006 e 2016 dei 80 concertos na Stone [a irredutível e irredimível sala de
espetáculos fundada por John Zorn numa esquina da Greenwich Village em 2005 e
há um ano transferida fisicamente para o espaço do New Glass Box Theatre, no campus da New School]. Uns foram
gravados, outros não. A música [essa] foi sempre improvisada. Sem quaisquer ensaios,
sem grandes conversas. Em alguns casos nunca havíamos tocado juntos, noutros
conhecíamo-nos perfeitamente uns aos outros.” Trata-se de uma apresentação
factual que logo traz à memória o que escrevia por alturas de “Guitar Solos”, o
seu primeiro disco: “Todos os temas foram improvisados: uns completamente,
outros a partir de esboços preconcebidos.” Isto foi em 1974. E em todos estes anos
pouco mudou. Aliás, no livreto de “Closer to the Ground”, o álbum que gravou em
janeiro de 2018 com Jason Hoopes e Jordan Glenn, medita sobre outra constante:
“Tomei há pouco consciência que desde 1965 não se passou um dia em que não
fizesse parte de uma banda. Aparentemente é algo de que necessito. É um modo
como nenhum outro de obter resultados. É como estar na rua e em casa ao mesmo
tempo.”
O que lembra uma coisa que disse no verão de 2014, em entrevista ao
Expresso: “Fazer parte de um coletivo apresenta um conjunto de desafios únicos,
é certo, mas possui, também, vantagens muito evidentes.” No fundo, é a essa
predileção por sistemas colaborativos que “All is Always Now” dá, agora, expressão,
de maneira exponencial: em três horas de música, Frith toca em trio com Hoopes
e Glenn, Nava Dunkelman e Amma Ateria, Theresa Wong e Annie Lewandowski, Ikue
Mori e Nate Wooley, Pauline Oliveros e Else Olsen Storesund, e em duo com Sudhu
Tewari, Sylvie Courvoisier, Clara Weil, Miya Masaoka, Evan Parker, Gyan Riley,
Shelley Hirsch e Laurie Anderson [na foto]. Gente suficientemente parecida e em
simultâneo bastamente diferente para que, no seu melhor (nas peças com os últimos
três nomes da lista, digamos), a improvisação se revele uma forma de, na
música, cantar aquilo que não pode mesmo ser cantado, que existe apenas na
sempiternidade, em elisões e ilusões que, mais que intuir, se podem habitar, no
ponto em que é e já não é de cada um tudo aquilo que se pensa e sente. Frith
tem esperança que seja assim.
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