6 de julho de 2019

Agenda: Festivais de Jazz


Há uma dúzia de anos, num ensaio, o escritor Haruki Murakami recordava o momento em que pela primeira vez ouviu os Messengers, de Art Blakey: “A banda era simplesmente incrível, com Wayne Shorter no saxofone tenor, Freddie Hubbard na trompete, Curtis Fuller ao trombone. Acho que foi um dos conjuntos mais fortes da história do jazz. Foi em 1964, em Kobe, tinha eu 15 anos. Nunca havia escutado nada assim, nem nunca mais o tornei a fazer.” Distraído, não prestou atenção a ‘Influência do Jazz’, de Carlos Lyra, então a chegar às lojas japonesas, e foi fisgado. Para o que agora interessa, trata-se de um bom gancho para anunciar a ida ao Funchal Jazz deste ano de Terence Blanchard [na foto], cujo algébrico A/B Squared se entende exatamente como uma homenagem a Blakey e que conta no seu seio, até, com outro alumnus do baterista: Jean Toussaint, no saxofone tenor, que ao lado de Blanchard, Donald Harrison, Lonnie Plaxico e Mulgrew Miller tornou o elenco dos Messengers de meados de 80 um pouco mais estável. 

Sexta, pelas 23h, quando Blanchard, Toussaint, Charles Altura (guitarra), Gerald Clayton (teclados), Tabari Lake (contrabaixo), David Ginyard, Jr. (baixo) e Jeff “Tain” Watts (bateria) subirem ao palco do Parque de Santa Catarina será precisamente nas relações entre gerações que se pensará e nos legados e direitos de sucessão que isso implica. Antes deles, curiosamente, tocará um juveníssimo quinteto liderado pelo acordeonista português João Barradas que problematiza de maneira contundente estas questões e que envolve o saxofonista holandês Ben van Gelder, o vibrafonista francês Simon Moullier, o contrabaixista italiano Luca Alemanno e a baterista espanhola Naíma Acuña. Mais que um sinal de que transpôs fronteiras, será a prova de que a mensagem de Blakey não se restringe a géneros: que é exatamente o que pretenderá demonstrar o quarteto da saxofonista chilena Melissa Aldana, dia 13, pelas 21h30. O Funchal Jazz inclui ainda Ben Wendel (quinta, 21h30), Gregory Porter (quinta, 23h) e Dianne Reeves (13, às 23h), gente com pés solidamente assentes na tradição e que de certo modo é a exceção à regra na agenda que se avizinha. 

Isto, dado que se fala em “Mensagem”, porque ao contrário do que anunciava Fernando Pessoa nos versos inaugurais do seu livrito, essa coisa de que a “A Europa jaz, posta nos cotovelos:/ De Oriente a Ocidente jaz, fitando”, no jazz, já não será bem assim: atente-se ao Jazz no Parque, em Serralves, com Pedro Melo Alves (hoje, 18h, numa insólita formação que se apresentará igualmente em Coimbra, no Salão Brazil, na quinta, e em Lisboa, no Hot Clube, na sexta) e com os encontros de Fail Better! e Théo Ceccaldi (13, 18h) e de Ácidos e About Angels and Animals (20, 18h), ao Matosinhos em Jazz e ao Guarda in Jazz (ambos quase só com prata da casa, no primeiro destacando-se Ricardo Toscano ou Susana Santos Silva, no segundo o Rite of Trio ou o José Valente Trio) ou ao Julho é de Jazz, em Braga, no gnration, com Mário Costa (quinta, 22h, à frente de um trio com os superlativos Benoît Delbecq e Bruno Chevillon), Nubya Garcia (sexta, 22h, que na véspera toca no MusicBox, em Lisboa) e a reunião de Jim Black e Elias Stemeseder com Peter Evans (13, 22h). Como é que acaba “Mensagem”? “Ó Portugal […]/ É a Hora!” Do jazz, sim.

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