Há uma dúzia de anos, num ensaio, o escritor Haruki Murakami
recordava o momento em que pela primeira vez ouviu os Messengers, de Art
Blakey: “A banda era simplesmente incrível, com Wayne Shorter no saxofone
tenor, Freddie Hubbard na trompete, Curtis Fuller ao trombone. Acho que foi um
dos conjuntos mais fortes da história do jazz. Foi em 1964, em Kobe, tinha eu 15
anos. Nunca havia escutado nada assim, nem nunca mais o tornei a fazer.”
Distraído, não prestou atenção a ‘Influência do Jazz’, de Carlos Lyra, então a
chegar às lojas japonesas, e foi fisgado. Para o que agora interessa, trata-se
de um bom gancho para anunciar a ida ao Funchal Jazz deste ano de Terence
Blanchard [na foto], cujo algébrico A/B Squared se entende exatamente como uma homenagem
a Blakey e que conta no seu seio, até, com outro alumnus do baterista: Jean Toussaint, no saxofone tenor, que ao
lado de Blanchard, Donald Harrison, Lonnie Plaxico e Mulgrew Miller tornou o
elenco dos Messengers de meados de 80 um pouco mais estável.
Sexta, pelas 23h,
quando Blanchard, Toussaint, Charles Altura (guitarra), Gerald Clayton
(teclados), Tabari Lake (contrabaixo), David Ginyard, Jr. (baixo) e Jeff “Tain”
Watts (bateria) subirem ao palco do Parque de Santa Catarina será precisamente
nas relações entre gerações que se pensará e nos legados e direitos de sucessão
que isso implica. Antes deles, curiosamente, tocará um juveníssimo quinteto
liderado pelo acordeonista português João Barradas que problematiza de maneira
contundente estas questões e que envolve o saxofonista holandês Ben van Gelder,
o vibrafonista francês Simon Moullier, o contrabaixista italiano Luca Alemanno
e a baterista espanhola Naíma Acuña. Mais que um sinal de que transpôs fronteiras,
será a prova de que a mensagem de Blakey não se restringe a géneros: que é
exatamente o que pretenderá demonstrar o quarteto da saxofonista chilena
Melissa Aldana, dia 13, pelas 21h30. O Funchal Jazz inclui ainda Ben Wendel
(quinta, 21h30), Gregory Porter (quinta, 23h) e Dianne Reeves (13, às 23h),
gente com pés solidamente assentes na tradição e que de certo modo é a exceção
à regra na agenda que se avizinha.
Isto, dado que se fala em “Mensagem”, porque
ao contrário do que anunciava Fernando Pessoa nos versos inaugurais do seu livrito,
essa coisa de que a “A Europa jaz, posta nos cotovelos:/ De Oriente a Ocidente
jaz, fitando”, no jazz, já não será bem assim: atente-se ao Jazz no Parque, em
Serralves, com Pedro Melo Alves (hoje, 18h, numa insólita formação que se
apresentará igualmente em Coimbra, no Salão Brazil, na quinta, e em Lisboa, no
Hot Clube, na sexta) e com os encontros de Fail Better! e Théo Ceccaldi (13,
18h) e de Ácidos e About Angels and Animals (20, 18h), ao Matosinhos em Jazz e
ao Guarda in Jazz (ambos quase só com prata da casa, no primeiro destacando-se
Ricardo Toscano ou Susana Santos Silva, no segundo o Rite of Trio ou o José
Valente Trio) ou ao Julho é de Jazz, em Braga, no gnration, com Mário Costa
(quinta, 22h, à frente de um trio com os superlativos Benoît Delbecq e Bruno
Chevillon), Nubya Garcia (sexta, 22h, que na véspera toca no MusicBox, em
Lisboa) e a reunião de Jim Black e Elias Stemeseder com Peter Evans (13, 22h).
Como é que acaba “Mensagem”? “Ó Portugal […]/ É a Hora!” Do jazz, sim.
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