No alinhamento de “Sedimental You”, o tomo
inaugural destes Mark Dresser Seven (e o pronome demonstrativo não está
inteiramente correto, pois de então para cá o violinista David Morales Boroff
foi substituído por Keir GoGwilt), dava-se por uma contradança algo
desengonçada chamada ‘TrumpinPutinStoopin’. Era o 18 de novembro de 2016 e o
mundo encontrava-se em alerta laranja em virtude da vitória de Donald Trump na recentíssima
eleição presidencial. Um mês mais tarde, de forma menos subtil (afinal,
contradança tem como sinónimo a palavra quadrilha), a indignação chegava às
páginas da “Rolling Stone”, que exigia uma investigação à alegada interferência
russa nas eleições “quer se revele ou não que Putin esteve por trás de um golpe
de estado cibernético para empossar Trump” – será nesse contexto que se entende
o que Dresser quererá dizer com este “Ain’t Nothing But A Cyber Coup & You”.
Aliás, em notas de apresentação, o contrabaixista e compositor acusa a
influência de uma figura como Charles Mingus, cujo exemplo o leva agora a
“lidar com o distópico estado das coisas a partir de uma posição de esperança”.
Escuta-se o disco e, de facto, há momentos que logo trazem à memória o Mingus
de ‘Better Git It In Your Soul’, um expoente da insubordinação que o jazz viu
promulgada em septeto pelo menos desde os Hot Seven, de Armstrong. Trata-se de
um aspecto formal de monta: a abrir o CD, a evocação de Arthur Blythe em ‘Black
Arthur’s Bounce’ lembra “Lenox Avenue Breakdown”, a mais emblemática das
gravações desse prodigioso saxofonista, também ela em septeto; e, no fundo, a
música de que Dresser aqui mais se aproxima é aquela que Henry Threadgill
compôs há três anos para o Ensemble Double Up e há trinta para um outro septeto
que sobreviveu ao conformismo dessa era. Dresser, GoGwilt, Marty Ehrlich,
Nicole Mitchell, Michael Dessen, Joshua White e Jim Black a transcender a
hierarquização de preconceitos que fulmina não só o seu país como amiúde a
própria música do seu país, na mais assimétrica e aborígene discriminação de
timbres em septetos americanos desde o “Choro Nº 7”, de Villa-Lobos. Trump
caracterizá-la-ia como #FakeJazz.
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