No outono de 1961, o trio de Jimmy Giuffre com
Paul Bley e Steve Swallow chegava sem aviso prévio à Europa. Vinha de gravar
“Thesis” e “Fusion”, um par de álbuns que se diriam produzidos por Mies van der
Rohe – assentes em alicerces harmónicos praticamente invisíveis e coroados por
linhas melódicas que pareciam desobstruir o próprio contexto composicional em
que surgiam, desagregando e disseminando os seus materiais em partículas impalpáveis.
Não admira que Giuffre viesse anunciar um corte com o passado na “Down Beat” de
dezembro: “Apercebi-me que precisava de seguir outro rumo. Que tinha de me
libertar e de ir para lá das vedações à procura de outras pastagens.” Compreende-se
o intuito metafórico: Giuffre já não queria pertencer ao rebanho. Contudo, conforme
lembra Bley na sua biografia, “Stopping Time”, havia gente que no intervalo dos
concertos do trio, com ar de espanto e ainda mal refeita do choque, com certeza,
andava pelos camarins a perguntar por Jim Hall, desesperadamente à cata de
acordes. Gente que conhecia Giuffre dos discos de Woody Herman, Shorty Rogers,
Shelly Manne ou Howard Rumsey e que tinha “Western Suite”, gravado com Bob Brookmeyer
e Hall, por uma espécie de resumo e consubstanciação do cool.
Agora, plateias incrédulas viam Giuffre enjeitar a tradição
como se fosse um escravo a tentar libertar-se de correntes e era como se
tivessem de aprender a ouvir de novo, de trocar a chama do passado pelo
fogo-fátuo do futuro, quiçá. De facto, o trio teve um brilho transitório e só gozou
de glória póstuma – aliás, o modo descoroçoante com que terminou (“Decidimos
separar-nos na noite em que cada um de nós levou trinta e cinco cêntimos para
casa [após uma atuação]”, veio a contar Swallow) é quase tão emblemático quanto
a maneira de ser que demonstrou possuir em vida. Para a sua imortalidade contribuíram
“Emphasis, Stuttgart 1961” e “Flight, Bremen 1961”, editados em inícios de 90,
a que se soma este “Graz Live 1961”, captado uns dias antes e com cinco temas
adicionais no respetivo alinhamento – testemunhos vitais de quem teve coragem
de andar pelo escuro a tatear um mundo novo para o jazz, até cair.
Sem comentários:
Enviar um comentário