Abriu e fechou atividade por mais de
uma vez e ainda há pouco dizia estar a preparar-se para deixar de gravar. No
entanto continuam a sair discos seus. Nenhum tão irónico quanto “Greatest Hits”,
apesar de possuírem muitos a autorreferencialidade que vive no humor: em 2014 lançou
“I’ve Been to Many Places” e logo se pensava em ‘Places I’ve Never Been’, um tema
seu de 2003. Mas ocasionalmente Matthew Shipp é mais programático: nisso era
exemplar “Un Piano”, de 2008, cujo significado do título se disputava consoante
o idioma em que se presumisse estar escrito. Na mesma editora surge este CD dedicado
a Duke Ellington em que se vislumbram paradoxos semelhantes. Um deles terá a
ver com a frase “entre o páthos e o jingle”, a que Steve Dalachinsky recorre
nas notas em que o apresenta. Ou melhor, essa caracterização traz outra à
memória: “Há alturas em que uma imagética musical se torna patológica”, escreveu
Oliver Sacks sobre melodias – essencialmente publicitárias – que não nos saem
da cabeça. E é assim que Shipp aqui visita ‘In a Sentimental Mood’ ou ‘Take the
A Train’, identificando, deslocando e empurrando os seus mais distintos
constituintes até ao precipício da insanidade. De igual modo se escuta o prolongamento
da aventura com Darius Jones: música que se cura com a própria música.
Sem comentários:
Enviar um comentário