Já se sabe que, no que a enforcados
diz respeito, os ‘Strange Fruits’ de que Billie Holiday falava, oscilando ao
vento e bafejados pelo doce e fresco aroma das magnólias e pelo súbito fedor da
carne em chamas, possuíam precedente histórico na medieval ‘La Ballade des
Pendus’, em que as vistas, barbas e sobrancelhas dos mortos eram extirpadas
pelas bicadas de pegas e corvos, ou no ‘Le Verger du Roi Louis’, de Banville,
posteriormente adaptado por Brassens, do pomar decorado com cachos dos mais
extraordinários frutos. Também agora, no mais esclarecido dos seus discos, vem
Samba Touré cantar acerca de um solo queimado – “o gado é só pele e osso/ e
muito em breve também nós estaremos assim”, ouve-se na titular ‘Gandadiko’ – e
de umas “árvores secas como esqueletos/ nuas, fracas”, em ‘Touri Idjé Bibi’, que
dão uma “fruta negra, vazia, sem sabor/ fruta plástica do mundo moderno”. E do
mesmo modo se refere o trovador maliano aos cadáveres que pelo ano inteiro foi
encontrando “cobrindo as estradas/ preenchendo as entranhas das ovelhas/ à
porta das escolas e das mesquitas/ bem no centro das nossas casas”. Aliás,
“Albala”, o seu álbum anterior, denunciava já a doutrinária versão da
jurisprudência islâmica que se alastrava pelo norte do país impondo um
quotidiano de angústia e aflição. Agora, dir-se-ia que são tão criminosas as
condições climáticas quanto as cimitarras que os colos cortaram. Talvez por
isso, em ‘Woyé Katé’, termine a reclamar por reconstrução e restituição,
enquanto, na língua berbere, Ahmed Ag Kaedi, da banda tuaregue Amanar, sugere
que terra e cultura são sinónimos.
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