Mesmo que do seu aniversário - fez 75 anos no dia 5 deste mês - quisesse
aliviar a carga celebrativa, aí estão as editoras, determinadas a assinalar a efeméride,
esquadrinhando cada palmo das respetivas coleções, virando acervos do avesso, prontas
a sugerir que uma data importante na vida de Argerich tem equivalência na
história da música. Nisto, como se sabe, albarda-se o burro à vontade do dono. Por isso, trata-se de
um ritual com o qual a pianista terá feito as pazes, apesar das complexas
relações que estabeleceu com as muitas chancelas por que passou – “Não se vive
com a Martha sem se discutir – é impossível”, afirmou Jurg Grand, seu produtor
na EMI e ideólogo do “Progetto Martha Argerich”, agora na 15ª edição. É daí que
provém “Martha Argerich & Friends: Live from Lugano 2015” (3 CD, Warner), o
retrato das festividades do ano passado, com Kovacevich, Angelich e Capuçon
entre os convidados e o habitual arco-íris de compositores suspenso sobre os
Pré-Alpes. Já em “The Complete Sony Recordings”, também acabado de sair, se
destacam recitais com James Galway e Ivry Gitlis. Na DG surge “Chopin: The
Complete Recordings”, mas é através deste “Early Recordings” que o selo alemão põe
a cereja em cima do bolo. São gravações de 1960 (a exceção é a ambígua “Sonata
para Piano Nº 7 em Si bemol maior”, de Prokofiev, captada em 1967), inéditas,
com Argerich pelos seus 18-19 anos, registadas nos estúdios das emissoras WDR
Köln e NDR Hamburg, e que trazem, pela primeira vez, para a discografia oficial
da argentina a atlética “Sonata para Piano Nº 18 em Ré maior”, de Mozart, a
experimental “Sonata para Piano Nº 7 em Ré maior”, de Beethoven, e a volátil “Sonata
Nº 3 em Lá menor”, de Prokofiev. Ainda assim, é graças ao que faz na “Toccata”,
do russo, e no “Gaspard de la nuit”, de Ravel, que Argerich traz à memória o
que Nikita Magaloff, seu professor, disse um dia a seu respeito: “Não se pode
esperar que um cavalo de corrida ande a trote.”
Sem comentários:
Enviar um comentário