Primeiro,
em 2011, foi o afro-samba avessado, alforriado, acústico e nada abúlico da
estreia homónima. Depois, em 2012, o capítulo do exulcerante choque elétrico,
catártico e cataclísmico de “MetaL MetaL”. Agora, esses expressivos e
contrastantes exercícios de Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França dir-se-iam
coadunados, não tivesse o excesso de corrente desterritorializado a sua ação. Pois,
por mais que preserve os aromas acres dos terreiros de candomblé, a verdade é
que “MM3” surge embalado por modalismos levantinos, embora, em comunicado, o
trio denuncie influências “de países como Marrocos, Etiópia, Níger e Mali”. Em
termos estéticos e éticos há um precedente histórico para tamanha migração, no
pós-punk britânico, quando o embrião dos 23 Skidoo identificou em si o
protoplasma de Fela Kuti, quando os Rip Rig + Panic deram no seu ADN pelo free
jazz, quando os African Head Charge apontaram a via de Tombuctu ou, como é
óbvio, no instante em que os Pigbag de ‘Brazil Nuts’ cruzaram estruturas
rítmicas potencialmente brasileiras com presumíveis escalas pentatónicas árabes.
Trata-se da adoção de uma nova identidade ou, quiçá, da aceitação de um exílio.
O que é o mesmo que dizer que esta prática nasce da necessidade de contestar
uma cultura. Mas se uns dirigiam sortilégios a Margaret Thatcher, os Metá Metá
apontam as setas ao executivo de Michel Temer. Num clip promocional, Dinucci
reconhece que o disco foi “gravado no olho do furacão” e que nele se “vai
ouvindo um pouco dessa terra em transe, desse tempo político que a gente tá
vivendo”. A referência ao “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, logo traz à
memória aquele desabafo, no filme, que vai do “Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de
glórias, esta esperança dourada nos planaltos, etc.” até ao “Até quando
suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando,
além da inconsciência do medo, suportaremos?”. Coisas que os Metá Metá dizem
assim: “Uma esperança morta pra lá/ Uma ferida aberta pra cá/ Um
carnaval onírico/ É, não deu, não dá” ou “Escuridão/ Oco voraz/ Vai engolir o
mundo/ Regurgitar/ Boca funil/ Amanhã come o ontem”. E entre guinchos
terebrantes ao saxofone, corais convulsos, estilhaçados acordes à guitarra, jogam
um petardo às forças reacionárias.
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