10 de setembro de 2016

Yulianna Avdeeva: Chopin, Mozart, Liszt (Mirare, 2016)


Nas notas de apresentação, Avdeeva discute Chopin com o jornalista Michael Stallknecht, o que, por estes dias, e seis anos após ter obtido o primeiro lugar no Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin, significa ainda falar do polaco como se estivesse a falar de si, ou o inverso, tanto faz. “Foi naquele período imediatamente anterior ao concurso que mais me aproximei de Chopin”, relembra, “E tentei mergulhar a sério no seu tempo, não me limitei a estudar a sua música: li livros dos seus contemporâneos; vi fotografias de época; visitei muitos dos sítios em que ele viveu; fui a Nohant, por exemplo, onde ele passou um verão com George Sand, ou até a Valldemossa, em Maiorca.” Se, como Chopin e Sand, foi à ilha espanhola no inverno, é provável que, tal como escreveu Akhmátova, tenha descoberto que “é impossível viver sem sol o corpo e a alma sem canção”, o que é já uma importante lição. Embora, em matéria de citações, a visão que tem de Chopin se possa sintetizar por aquele famoso aforismo de Sand, o de que “não há coisa mais difícil de obter no mundo do que a simplicidade: é o último reduto da experiência e a derradeira demonstração do génio”. Mas o que a moscovita também parece dizer é que abraça o cosmopolitismo à medida que os seus conterrâneos o vão rejeitando. Aliás, escuta-se a sua interpretação da “Fantasia em Fá menor”, Op. 49, e sente-se uma espécie de saudade, como se a pianista estivesse a descobrir demasiado tarde o mundo a que aspiraria pertencer. É um sentimento praticamente aristocrático. Também o seu Mozart – no caso, através da “Sonata para Piano Nº 6 em Ré maior”, K. 284 – é claro e conciso, quase conservador. Inesperadamente, é na “Sonata Após uma Leitura de Dante”, de Liszt, que surge mais livre e descomplexada e aventureira e cheia de esperança.

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