Nas notas de apresentação, Avdeeva discute Chopin
com o jornalista Michael Stallknecht, o que, por estes dias, e seis anos após
ter obtido o primeiro lugar no Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin,
significa ainda falar do polaco como se estivesse a falar de si, ou o inverso, tanto
faz. “Foi naquele período imediatamente anterior ao concurso que mais me
aproximei de Chopin”, relembra, “E tentei mergulhar a sério no seu tempo, não
me limitei a estudar a sua música: li livros dos seus contemporâneos; vi
fotografias de época; visitei muitos dos sítios em que ele viveu; fui a Nohant,
por exemplo, onde ele passou um verão com George Sand, ou até a Valldemossa,
em Maiorca.” Se, como Chopin e Sand, foi à ilha espanhola no inverno, é
provável que, tal como escreveu Akhmátova, tenha descoberto que “é impossível
viver sem sol o corpo e a alma sem canção”, o que é já uma importante lição.
Embora, em matéria de citações, a visão que tem de Chopin se possa sintetizar
por aquele famoso aforismo de Sand, o de que “não há coisa mais difícil de
obter no mundo do que a simplicidade: é o último reduto da experiência e a
derradeira demonstração do génio”. Mas o que a moscovita também parece dizer é
que abraça o cosmopolitismo à medida que os seus conterrâneos o vão rejeitando.
Aliás, escuta-se a sua interpretação da “Fantasia em Fá menor”, Op. 49, e
sente-se uma espécie de saudade, como se a pianista estivesse a descobrir
demasiado tarde o mundo a que aspiraria pertencer. É um sentimento praticamente
aristocrático. Também o seu Mozart – no caso, através da “Sonata para Piano Nº
6 em Ré maior”, K. 284 – é claro e conciso, quase conservador. Inesperadamente,
é na “Sonata Após uma Leitura de Dante”, de Liszt, que surge mais livre e
descomplexada e aventureira e cheia de esperança.
Sem comentários:
Enviar um comentário