Tem ganho
novo fôlego, a concertina do septuagenário Bitori Nha Bibinha (Victor Tavares).
E assim tem sido desde que o cantor Chando Graciosa o convenceu a entrar num
avião em Cabo Verde para aterrar num estúdio de gravação na Holanda, em 1997. O
resultado foi mais ou menos este – comparada ao lançamento de 1998 pela CDS
Music Center dá-se pela falta de dois temas na presente reedição – e não se
pode dizer que tenha envelhecido mal. Claro que, literalmente, anos a fio de eletrificação
do funaná não permitiam que se levasse avante o plano de Graciosa: “A nossa
ideia era gravar um som o mais cru e próximo possível do que é o registo
original do funaná”, conta, agora, em notas de apresentação. Não, para tal teria
de se ouvir “Cape-Vert”, o CD de Kodé Di Dona que a Ocora colocou no mercado em
1996. Mas, de certa forma, ainda bem que assim foi, pois só algo com este tipo
de tração – para a qual contribuíram decisivamente Grace Évora e Danilo
Tavares, instrumentistas que faziam na altura a transição dos Rabelados para os
Splash – garantiria proteção contra as camadas de pretensão museológica que
iniciativas destas têm tendência a acumular. Outra coisa, aliás, não terá
atraído Samy Ben Redjeb (Analog Africa), que preferiu reeditar um álbum com
quase vinte anos do que produzir um novo de raiz. Para mais quando terá escrito
Bitori no Google e o Google lhe terá perguntado de volta se ele não quereria
antes dizer bisturi. Porque a ideia com que se fica ao ler o livreto deste
“Legend of Funaná” é que Redjeb é uma espécie de São Judas Tadeu da música
africana. E é como se o funaná tivesse começado e acabado em Bitori e nunca
tivessem havido uns Bulimundo ou uns Finaçon ou não existissem hoje os Ferro
Gaita. Nem se refere que Bitori e Graciosa voltaram à carga em 2002 com “Más um
Funaná”. Seja como for, foi Redjeb que permitiu uma segunda vida a Bitori. E,
até em Lisboa, já vão Julinho da Concertina e Katuta Branca ao centro da cidade
sem ser para tratar do cartão de cidadão.
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