O que possuem Erykah
Badu, Jamiroquai, De La Soul, Mary J. Blige, Pet Shop Boys, Grace Jones, Bryan
Ferry, Youssou N’Dour, Pretenders, Tom Jones, Sting ou Gipsy Kings em comum? Muitas
coisas, certamente – entre as quais, por exemplo, atuações no “Later… With
Jools Holland”, da BBC 2. Mas, para o que agora interessa, une-os outra
condição: a de cabeças-de-cartaz, no corrente mês, dos mais destacados
festivais de jazz do mundo, de Montreux a Montreal, de Roterdão (North Sea) a
Copenhaga, de San Sebastián a Úmbria, passando por Antibes (Jazz à Juan) e
Nice. Como é óbvio, este tipo de programação permite que se concretize algo que
remete em simultâneo para muito mais e para muito menos que o jazz mas que não
deixa de ser parte integrante da sua perceção global: a de uma música que
dramatiza como poucas a tensão entre o interesse individual e o coletivo, a
capacidade de inovação e a conservação, o imaginário nativo e o espírito cosmopolita,
etc. Há aqui afinidades ideológicas com certas teses sociais que, neste
contexto, dão mostras de caracterizar implicitamente o amante de jazz que
espera ouvir jazz num festival de jazz como uma espécie em vias de extinção ou,
pior, como um reacionário. Mas não tem de ser assim, claro, como demonstra a
organização do madeirense Funchal Jazz, daquelas em que se pensa mais no
conteúdo do que na forma e que arranca quinta-feira, dia 13, no Parque de Santa
Catarina, quando, às 21h30, subir a palco um nome que põe a nu estas crises de
identidade: o de João Barradas, jovem instrumentista e compositor que, ao
acordeão, terá conhecido a aflição que aguarda os surfistas que chegarem a
Tóquio em 2020, digamos, ansiosos por provar o quão legítimo é o seu ingresso
no Olimpo. Acompanham-no os músicos do recente “Directions”, incluindo Greg
Osby, que às 23h00 atuará lá do alto no estelar Saxophone Summit (ao lado de Dave
Liebman, Joe Lovano, Phil Markowitz, Cecil McBee e Roy Haynes - na foto). Dia 14 chega o
apolíneo trio de Rudy Royston e a hedonista Caipi Band, de Kurt Rosenwinkel (e de
caipirinha e de caipira, presume-se), e dia 15 bons ventos trazem o trio de
Bill Frisell e o quarteto de Charles Lloyd. A partir daí vai ser mais difícil voltar
à terra.
Sem comentários:
Enviar um comentário