Como se pela sua ausência a música de Steve Coleman
passasse imediatamente a pertencer à família dos invertebrados, deu-se pela
falta da bateria mal foi anunciado o elenco principal deste “Morphogenesis”:
trompete (Jonathan Finlayson), saxofone tenor (Maria Grand), clarinete (Rane
Moore), violino (Kristin Lee), voz (Jen Shyu), piano (Matt Mitchell) e
contrabaixo (Greg Chudzik). Podia ser, também, que estas reações iniciais se deixassem
influenciar pela referência à morfogénese, imaginando Coleman de bata branca e
rendido à citologia, observando ao microscópio o excecional zigoto que resulta
da fecundação. Será um embaraço concetual a que ao longo dos anos o saxofonista
e compositor habituou os seus seguidores, embora no caso não seja necessário um
doutoramento para se perceber onde quer chegar. Afinal, por enquanto, prossegue
na linha de “Functional Arrhythmias” (2013) e “Synovial Joints” (2015), aqueles
extraordinários discos em que primeiro postulou semelhante enquadramento: peças
nascidas de curtas composições espontâneas, muitas vezes geradas em momentos de
vigília ou contemplação, nas quais procura rapidamente identificar as
características fundamentais ao seu desenvolvimento orgânico. Trata, portanto,
da orquestração enquanto destino. E permanece um optimista, Coleman, além de manter
intocado o seu fascínio pelo corpo humano – aqui, através de ‘Inside Game’,
‘Roll Under and Angles’, ‘Shoulder Roll’ ou ‘Dancing and Jabbing’, ao estabelecer
pontos de contacto com o mundo do pugilismo. Vindo daquele que escreveu “The
Sweet Science: Floyd Mayweather and Improvised Modalities of Rhythm”, um ensaio
em que sugeria uma relação de proximidade entre um boxeador e um improvisador,
mais ao nível do sentido de oportunidade do que propriamente do ritmo, não
admira. Sem darem mostras de grandes variações mas, não obstante, nada
estáticos, são temas elegantes, repletos de ganchos, desvios ou fintas, em que,
como único senão, se dirá que Coleman não chega bem a tirar as luvas.
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