29 de julho de 2017

Tim Berne’s Snakeoil “Incidentals” (ECM, 2017) & Matt Mitchell (Tim Berne) “Forage” (Screwgun, 2017)


Há cerca de um ano, em entrevista ao Expresso, Tim Berne explicava que se estava a preparar para entrar em estúdio com Matt Mitchell, pianista nos seus Snakeoil: “[…] Vai gravar um disco com música minha para piano solo. Escolhemos juntos o material a partir dos últimos 10 ou 15 anos, pelo que abarca períodos muito diferentes.” Na altura, depositava igualmente esperanças em Manfred Eicher, sugerindo que fosse provável que o resultado viesse a interessar ao fundador da ECM. Mas eis que, entretanto, aí está o CD, lançado pela própria editora de Berne. E tem consequências algo perversas, “Forage”, em que tudo é muito mais opaco e angular do que aquilo que se poderia supor, como numa composição cubista feita a partir de originais já de si extraordinariamente densos e sinuosos. Dir-se-ia que Mitchell, no que diz respeito à obra de Berne, preferiu voltar a emaranhar o nó, tornando sincrónico o que evoluiu no tempo, jogando sozinho ao cadavre exquis. Seguiu também num sentido contrário àquele que a música de Snakeoil sugere, em que a transparência não compromete a tridimensionalidade, a monumentalidade não ameaça a minuciosidade, o estudo não invalida o ato espontâneo, o excesso de informação não anuvia o exotismo.

São tudo coisas em que se pensa ao escutar qualquer um dos quatro discos do grupo, mas que são óbvias em “Incidentals”. Aliás, regressando à entrevista, Berne dizia estar “muito satisfeito com ‘You've Been Watching Me’” (2015), mas sugeria igualmente que, em matéria de álbuns, “o próximo é o melhor”. Nesse particular estava em controlo de todas as variáveis, claro. E é bem possível que tivesse razão. O quinteto é o mesmo do disco anterior (Berne com Mitchell e Oscar Noriega nos clarinetes, Ryan Ferreira em guitarras e Ches Smith à percussão) e curiosamente o material procede da mesmíssima sessão de gravação (dezembro de 2014). Mas o que aqui está, na vida de Berne, só possui precedentes no seu primeiro encontro com Julius Hemphill, quando, de chofre, e de modo muito inesperado, o seu futuro mentor se vira para ele e diz: “Tenho andado a pensar muito em magia.”

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