Se não
vem para a festa, nem vale a pena bater à porta. A frase é de um hino hedonista
de Prince, ‘1999’, e podia descrever o pensamento da edilidade portuguesa face
a António Guterres, precisamente em 1999. Afinal, tendo em conta o referendo do
ano anterior, e contrariamente ao que o primeiro-ministro tinha sugerido à
Comissão Nacional do seu partido, parecia que a regionalização não se tornaria
efetiva no país. Autarcas de norte a sul juravam que se puxava o tapete a uma
oportunidade histórica, para mais quando se estendia a passadeira vermelha à
China no processo de transferência de soberania de Macau. Mas cedo se arranjou
forma de replicar o estrondo do fogo-de-artifício com que a Expo’98 havia
encerrado: sabendo-se que da conquista da cultura à autonomia administrativa
vai um passo, mostras de todo o tipo frutificaram por Portugal. Muitas a entrar
agora na idade adulta, como é costume dizer-se: Festival de Teatro de Viseu,
Intercéltico de Sendim, Raízes do Atlântico (Madeira), Noites na Nora (Serpa),
Correntes d’Escritas (Póvoa de Varzim), Festa do Cinema Francês (Lisboa),
conquanto seja mais arriscado atribuir respeitabilidade automática ao 18º
Festival de Tunas Mistas de Abrantes, como é óbvio. Também na 18ª edição vai o
SeixalJazz, que decorre de 19 a 28 de outubro. Traz como principal mais-valia os
quartetos de Michaël Attias (com Aruán Ortiz, John Hebert e Nasheet Waits), dia
21, de Dominique Pifarély (com Antonin Rayon, Bruno Chevillon e François
Merville, na foto), dia 27, e de Lee Konitz (com Dan Tepfer, Jeremy Stratton e George
Schuller), dia 28, não tanto por uma espécie de equilíbrio elementar nas
respetivas formações quanto por ilustrarem na perfeição um credo comum aos
melhores festivais de jazz, aquele que T. S. Eliot sintetizou no poema final de
“Quatro Quartetos”: “Pois as palavras
do ano findo pertencem à linguagem do ano findo / e as do próximo ano esperam
por outra voz”. Seja como for, não há sombra de ventriloquismo na restante
participação: Wolfgang Muthspiel (dia 19, sem o estelar elenco de “Rising Grace”,
no entanto), Slow is Possible (20) e João Barradas (26). Os concertos são sempre
às 22h, no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal.
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