É uma
editora dada à hipérbole, a Resonance. “Este não é um álbum qualquer”, escrevia
Zev Feldman, seu produtor, em fevereiro de 2016, a propósito de “Some Other
Time: The Lost Session from the Black Forest”. Trata-se de um testemunho
“notável de um período pouco documentado na carreira de um dos ícones do jazz”,
continuava, “um grande álbum que obrigará a reescrever os livros de História”.
Resumindo: “É o único disco gravado em estúdio por Bill Evans com Eddie Gómez e
Jack DeJohnette”, uma frase que dava a volta ao único registo oficial do trio, “Bill
Evans at the Montreux Jazz Festival”. Um
ano depois, em fevereiro de 2017, portanto, Feldman estava à cata de palavras:
“O Marc Myers [jornalista, crítico de jazz e autor das notas de apresentação de
“Some Other Time”] escreveu-me a dizer que foi contactado por um entusiasta
holandês que nos queria alertar para o facto de haver uma outra gravação deste
trio captada a 22 de junho de 1968 nos estúdios da emissora nacional, em
Hilversum”.
Pense-se em Jeffrey “The Dude” Lebowski no banco de trás de uma
limusina a explicar-se perante Jeffrey “The Big” Lebowski que se terá uma
versão mais abreviada da coisa: “Vieram a lume umas merdas novas, pá!” Oportunidade,
então, para a Resonance elevar ainda mais a fasquia: “É tão importante quanto o
trio que Evans liderou em 1961, com Scott LaFaro e Paul Motian”, diz Myers. Dificilmente.
Parece ignorar-se que, nisto, mais vale agradecer com a verdade, que ofender
com a lisonja. E havia uma forma mais humilde de dizer ao que se vinha. Bastava
seguir à boleia de uma famosa frase de Evans, impressa na contracapa de “Kind
of Blue”, em que se sugeria uma equivalência entre a técnica de pintura Sumi-e, no Japão, e a improvisação, e
dizer que aqui se procedia de acordo com a visão do mundo Wabi-sabi, ancorada na estética do belo que é “imperfeito,
impermanente e incompleto”. Aliás, a mais-valia é exatamente essa: perante a
inadequação de DeJohnette e a inibição de Gómez, como no Kintsugi (o restauro a ouro de cerâmica lascada), eis Evans a reparar
delicadamente peças partidas – em paz com o destino.
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