Em
2000, num livro de memórias, Buddy Collette refletia sobre improvisação. Dava
como exemplo o carácter algo arbitrário daquilo que se passava no quinteto de
Chico Hamilton: “Um de nós sugeria um motivo, uma figura, e prosseguíamos com
respostas, cadências, fugas, recapitulações, esse tipo de coisas. As frases iam
circulando [entre os membros do grupo], desdobravam-se e regressavam como um
eco.” Havia já Collette abandonado a banda, trata-se de uma boa descrição para
o que acontece em ‘Concerto of Jazz Themes from the Sound Track of ‘Sweet Smell
of Success’’, um marco na história da música improvisada a que não se dá o
devido apreço. Numa coluna de 2003, na “Down Beat”, no ano passado reproduzida
em “Vinyl Freak”, John Corbett foi dos poucos a dar por ele: “Tinha ouvido
dizer que alguns grupos de Hamilton tocavam de modo espontâneo, e não se trata
de uma prática sem precedentes. Mas creio que esta pode ter sido a primeira vez
que se ocupou o lado inteiro de um LP com música livre."
Porque
nada do que aí se escuta efetivamente acompanha o desenrolar da ação, a Fresh
Sound excluiu-a da reedição que fez em 2008 da integral da música composta para
o filme de Alexander Mackendrick – mas ela aqui está, tal como, no mesmo ano, surgiu
noutro lançamento semelhante da él
(aí, o corte de cabelo feito à matriz fonográfica, em vinil, fez algumas
peladas; aqui, presume-se que a partir das fitas da Decca, o penteado assenta
melhor mas saiu curto – em relação ao alinhamento de 1957, falta ‘Jonalah’). Agora,
além do que fizeram Hamilton e Fred Katz, acompanhados por Paul Horn, Carson
Smith e John Pisano, inclui-se igualmente neste título a música composta por
Elmer Bernstein, desta feita na sua sequência original. Há metais com surdina (na
banda sonora, dir-se-ia cumprirem a função, para quem agride, do sabonete
dentro da meia: ferir sem deixar uma nódoa negra), cordas de mau agoiro e
exatamente o que se espera para um filme tão negro que a luz do sol só aparece
ao minuto 45. Bem à medida dos papéis de Burt Lancaster e Tony Curtis, como ratos
de laboratório num labirinto de néon.
Sem comentários:
Enviar um comentário